Abellio (SA) – O casamento do Filho

Tradução

Esta digressão sobre a estrutura sefirótica nos permite compreender a função do Filho e da Filha. O Filho ou Esposo é simbolizado pela sexta sephirah Tiphereth cujo lugar se situa exatamente na junção dos dois senários, quer dizer no centro da construção. Seu papel de mediador intra-mundano é assim sublinhado. Quanto à Filha, indiferentemente chamada Virgem-Noiva ou Esposa, ela é simbolizada pela última sephirah Malkouth, posta na margem da construção, no lugar da subversão extra-mundana. Assim o Filho é central, a Filha marginal. A última sephirah é portanto em realidade a décima-terceira, e exprime todo o simbolismo da estrutura fundamental 6 + 6 + 1 do número 13. É este simbolismo de Malkouth que se refere o sonete Artémis de Gerard de Narval:

A décima terceira retorna, é ainda a primeira
E é sempre a única, — e é o único momento,

cujo último verso exprime o caráter extremo da Esposa:

A santa do abismo é mais santa a meus olhos

Artemis é a divindade feminina não deflorada e por consequência não fecundada em oposição a Afrodite, deflorada, não fecundada, e a Vênus, fecundada. A defloração de Afrodite tem lugar à margem do mundo. Quanto à fecundação de Vênus, ela é extra-mundana. Assim como é um outro nome para Ísis, Perséfone, Eurídice ou Helena, Malkouth é portanto Afrodite. Ela é também a Virgem negra do Cântico dos Cânticos: «Eu sou negra e bela, filhas de Jerusalém; é o sol que ME queimou». Ela é negra porque ela está nas trevas do mundo inferior que são as trevas exteriores, face ao sol e não mais no sol. As trevas interiores são indiscerníveis, elas são a essência mesma da deidade que guarda prisioneira sua luz como o abismo guarda o caos. Mas o Filho involui porque a deidade de corta, e é este reflexo lunar dela mesma que isola as trevas de baixo e as faz exteriores, antes que o Filho reunificado na hermafrodita as dissolva. Malkouth és assim o contra-polo do Ain-Soph, ao mesmo tempo no Ain-Soph e fora dele. Vê-se como ela se distingue de Binah, terceira sephirah que guarda o mundo da Emanação e que se chama também a Mãe dos «mundos» de baixo: Binah é com efeito consubstancial ao Ain-Soph. A Noiva manifesta as trevas exteriores ao sol do Ain-Soph, enquanto a Mãe é a regente das trevas interiores do sol.

Original


  1. La guématrie, c’est-à-dire la science kabbalistique de la « valeur numérale » des mots, exprime au mieux ce dernier point en donnant à Binah (la Mère) la valeur de 66, alors que l’Ain-Soph est 1-66, tandis que Malcouth, de valeur 443, résulte d’une gravitation complète de l’Ain-Soph hors de lui-même : 166 + 616 + 661 = 1 443. Notons d’ailleurs que 66 est la « valeur secrète » de 11, en sorte que l’Ain-Soph est le premier degré de la manifestation tri-unitaire de 1-11 par déversement « vers le bas » de deux de ces trois unités. Voir notre ouvrage La Bible, document chiffré (éd. Gallimard), t. II, p. 31 et suiv. 

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