Silburn (MMP:15) – Kula

O termo Kula designa a Realidade última que contém em si Śiva e śakti ou anuttara e anuttarī, cuja união gera bem-aventurança. Enquanto o Trika enfatiza a não dualidade (advaita) da Consciência, o Kula insiste em sua infinidade e liberdade (svātantrya): nessa infinidade que não exclui nada, os pontos de vista mais opostos encontram lugar, sendo o dualismo e o não dualismo igualmente considerados como um jogo por Śiva, que se diverte ocultando ou revelando sua essência.

A liberdade — a do Si — reside na consciência do Si em toda a sua eficiência, graças à indescritível intuição da fórmula A-H-AM1; a eficiência e a liberdade apresentam-se, assim, como as características essenciais do sistema Kula.

Para alcançar a liberdade ou união indissolúvel — o rudrayāmala de Śiva e energia — essa escola defende o caminho direto de Śiva2 que descobre a liberdade última no ato da vontade: ousadia do vīra, audácia do gênio além de todas as proibições; o intrépido herói, sem negar nada, une-se a Śiva em e através da bem-aventurança, daí a importância atribuída às práticas de kaula e jīvan mukta entendidas no sentido de um ser livre que, nesta mesma vida, tornou-se consciente de sua total liberdade. (p. 15)


  1. Ahamparāmarśa e mantravīrya. Cf. aqui p. 27 e p. 29. 

  2. O śāmbhavopāya. 

Lilian Silburn (1908-1993)