Mario Dal Pra, Enciclopédia Einaudi [EEEE]
Qual foi, do ponto de vista histórico, a relação entre o nascimento da astrologia e o da astronomia? Com a afirmação da ciência moderna, também se afirmou a opinião corrente de que a astrologia havia precedido a astronomia; e isto mediante um desenvolvimento lógico segundo o qual a astrologia se teria afirmado de início, enquanto construção arbitrária e supersticiosa, a que se teria seguido, de forma definitiva, a construção científica e racional da astronomia. Na verdade, a astronomia e a astrologia nasceram ao mesmo tempo, mesmo que tenha sido por vias e em direcções diferentes; é significativo recordar, por exemplo, que Cláudio Ptolomeu é ao mesmo tempo o autor do Almagesto e do Tetrabiblos, quer dizer, por um lado da obra que esteve na base da ciência da astronomia durante mil e quatrocentos anos e, por outro, da obra que se tornou a Bíblia da astrologia para o Islão e para os povos latinos. Se, pelo seu lado, a astrologia se apropriou de muitos dos conhecimentos estabelecidos pela ciência da astronomia, esta última desenvolveu a sua consideração dos fenómenos celestes numa perspectiva diferente da perspectiva cosmológica da astrologia; em resumo, desde as origens pode dizer-se que intervém a distinção entre uma consideração mais delimitada dos fenómenos celestes, considerados por si mesmos e principalmente à luz da disciplina matemática, e uma consideração que visa os fenómenos celestes na perspectiva da unidade do universo e dando particular atenção à ligação existente entre eles e a realidade que se desenrola no mundo terrestre. Aliás, a compatibilidade das duas perspectivas, embora diferentes, da astronomia e da astrologia, inspira tudo quanto disse Kepler, nos primórdios da ciência moderna: embora tomando posição crítica contra as muitas degenerações da astrologia, foi obrigado a reconhecer que o influxo dos astros sobre a Terra era um critério geral que não podia ser posto em causa. O destino histórico da astrologia está pois ligado, quer no seu nascimento quer na sua extinção, à afirmação e decadência da consideração unitária do cosmos, mais do que ao desenvolvimento oposto da astronomia; a própria relevância da astronomia dever-se-á antes pôr em relação com a afirmação geral do espírito científico e, por essa mesma razão, com a crise do espírito cosmológico em que a astrologia acreditou e se desenvolveu.