Categoria: Fernando Pessoa (1888-1935)
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Pessoa (LD:163) – falta de imaginação
A experiência direta é o subterfúgio, ou o esconderijo, daqueles que são desprovidos de imaginação. Lendo os riscos que correu o caçador de tigres tenho quanto de riscos valeu a pena ter, salvo o do mesmo risco, que tanto não valeu a pena ter, que passou. Os homens de ação são os escravos involuntários dos…
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Pessoa (LD:301) – alma – sensação
A única maneira de teres sensações novas é construíres-te uma alma nova. Baldado esforço o teu se queres sentir outras coisas sem sentires de outra maneira, e sentires de outra maneira sem mudares de alma. Porque as coisas são como nós as sentimos — há quanto tempo sabes tu isto sem o saberes? — e…
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Pessoa (LD:94/51) – Viver é ser outro
Viver é ser outro. Nem sentir é possível se hoje se sente como ontem se sentiu: sentir hoje o mesmo que ontem não é sentir — é lembrar hoje o que se sentiu ontem, ser hoje o cadáver vivo do que ontem foi a vida perdida. Apagar tudo do quadro de um dia para o…
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Fernando Pessoa: excesso de civilização dos incivilizáveis
– Que pensa da nossa crise? Dos seus aspectos – político, moral e intelectual? – A nossa crise provém, essencialmente, do excesso de civilização dos incivilizáveis. Esta frase, como todas que envolvem uma contradição, não envolve contradição nenhuma. Eu explico.
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Pessoa (LD:43) – a distância entre mim e o meu fato
De repente, estou só no mundo. Vejo tudo isto do alto de um telhado espiritual. Estou só no mundo. Ver é estar distante. Ver claro é parar. Analisar é ser estrangeiro. Toda a gente passa sem roçar por mim. Tenho só ar à minha volta. Sinto-ME tão isolado que sinto a distância entre mim e…
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Pessoa (LD:118/326) – sonho a vida real
De resto eu não sonho, eu não vivo. Sonho a vida real. Todas as naus são naus de sonho, logo que esteja em nós o poder de as sonhar. O que mata o sonhador é não viver quando sonha; o que fere o agente é não sonhar quando vive. Eu fundi numa cor una de…
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Pessoa (LD:78/124) – viver a vida em Extremo
Toda a alma digna de si própria deseja viver a vida em Extremo. Contentar-se com o que lhe dão é próprio dos escravos. Pedir mais é próprio das crianças. Conquistar mais é próprio dos loucos, porque toda a conquista é (?). Viver a vida em Extremo significa vivê-la até ao limite, mas há três maneiras…
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Pessoa (OC) – sou um evadido
Sou um evadido. Logo que nasci Fecharam-ME em mim, Ah, mas eu fugi. Se a gente se cansa Do mesmo lugar, Do mesmo ser Por que não se cansar? Minha alma procura-ME Mas eu ando a monte, Oxalá que ela Nunca ME encontre. Ser um é cadeia, Ser eu não é ser. Viverei fugindo Mas…
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Pessoa (LD:162) – o homem de ação
PESSOA, Fernando. Livro(s) do Desassossego. São Paulo, 2017 (edição digital, formato epub) O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à acção, isto é, a vontade. Ora há duas coisas…
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Pessoa (OC6) – O provincianismo português
Excerto de PESSOA, Fernando. Obras Completas (box completo – ebook) Se, por um daqueles artifícios cômodos, pelos quais simplificamos a realidade com o fito de a compreender, quisermos resumir num síndroma o mal superior português, diremos que esse mal consiste no provincianismo. O fato é triste, mas não nos é peculiar. De igual doença enfermam…
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Pessoa (TF1:36-39) – um ente é…
PESSOA, Fernando. Textos Filosóficos I. Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho. Lisboa: Edições Ática, 1968, p. 36-39 (dact.) (1924?) Um ente, ou Eu, qualquer existe essencialmente porque se sente, e sente-se porque se sente distinto de outro, ou de outros. Cada ente, visto que é o que é por natureza, e por natureza…
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Pessoa (LD:PLV80/149) – homem
Excerto de PESSOA, Fernando. Livro(s) do Desassossego. São Paulo, 2017 (edição digital, formato epub) Muitos têm definido o homem, e em geral o têm definido em contraste com os animais. Por isso, nas definições do homem, é frequente o uso da frase “O homem é um animal…” e um adjectivo, ou “O homem é um…
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Fernando Pessoa: Cesse ton corps…
Tu ne dors pas sous les cyprès car il n’est de sommeil en ce monde… Le corps est l’ombre des vêtements qui dissimulent ton être profond. Vient cette nuit qu’est la mort, et l’ombre s’achève sans avoir été. Tu vas dans la nuit, simple silhouette, Égal à toi contre ton gré. Mais à l’Hôtellerie de…
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Fernando Pessoa: Il y a des Erreurs…
Il existe de nombreuses Kabbales, et il est difficile de croire que nous ne puissions parvenir à l’union avec Dieu, quoi que cela puisse signifier, si nous ne connaissons pas l’alphabet hébreu. Il y a des Erreurs de Chemin, des Erreurs d’Auberge et des Erreurs de Caverne. Ce sont des erreurs de chemin où le…
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Fernando Pessoa – Le chemin du serpent
Considérer toutes choses comme des accidents d’une illusion irrationnelle, bien que chacune apparaisse rationnelle à elle-même, c’est le commencement de la sagesse. Mais ce début de sagesse n’est que la moitié de la compréhension des mêmes choses. L’autre partie de la compréhension consiste dans la connaissance de ces choses, dans leur participation intime. Nous devons…
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Fernando Pessoa – Bureau de Tabac (fragments)
JE ne suis rien. Jamais je ne serai rien. Je ne puis vouloir être rien. Cela mis à part, je porte en moi tous les rêves du monde. Je suis aujourd’hui perplexe, comme qui a réfléchi, trouvé, puis oublié. Je suis aujourd’hui partagé entre la loyauté que je dois Au Bureau de Tabac d’en face,…
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Fernando Pessoa – Les événements sont des hommes
Les événements sont des hommes. Les circonstances sont les gens. Une bataille, un dîner, un regard, un baiser – chacune de ces choses, parce que c’est une chose, c’est un être, une personne d’une certaine manière de chair et de sang. Nous les hommes ne sommes que des événements, lents par rapport aux autres, constitués…
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Fernando Pessoa – l’union à Dieu
Il est difficile, bien sûr, de comprendre ce que signifie Union à Dieu, mais on peut donner une idée de ce que cela signifie. Si nous supposons que, quelle qu’ait pu être (en dehors de la fausseté d’utiliser un temps, qui implique le temps) la manière dont Dieu a créé le monde, la substance de…
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Pessoa: l’idéal païen
L’idéal est la notion que la vie ne suffit pas. La vie peut être considérée comme insuffisante pour l’une des 3 raisons suivantes : (a) parce qu’elle est fausse, (b) parce qu’elle est vile, (c) parce qu’elle est imparfaite. Ce sont les manières (…) métaphysiques, éthiques et esthétiques de regarder la vie et l’idéal. Ce…
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Fernando Pessoa – l’inconnu
Tout est illusion. Tout se résume à créer. Tout se résume à l’illusion. Donc créer c’est mentir. L’illusion de la pensée, du sentiment, de la volonté. Tout est création, et toute création est illusion. Créer c’est mentir. Pour penser le non-être on le crée, ça devient une chose. Tous ceux qui pensent dans l’occultisme créent…