Categoria: Guimarães Rosa (1908-1967)
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O termo representação presta-se a numerosas confusões
O termo representação, que desnaturalizou toda a teoria da comunicação, diz Mairena em curso de retórica, presta-se a numerosas confusões que podem ser funestas para o poeta. As coisas são presentadas na consciência ou ausente dela. Não é fácil demonstrar que foram representadas na consciência. Mas, mesmo se admite-se que existe na consciência uma espécie…
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Guimarães Rosa: correspondência com tradutor italiano
Primeiro, precisarei de tagarelar também um pouco sobre o livro, as outras novelas. Quero afirmar a Você que, quando escrevi, não foi partindo de pressupostos intelectualizantes, nem cumprindo nenhum planejamento cerebrino’ cerebral deliberado. Ao contrário, tudo, ou quase tudo, foi efervescência de caos, trabalho quase “mediúmnico” e elaboração subconsciente. Depois, então, do livro pronto e…
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Guimarães Rosa: entrevista a crítico alemão
Excertos da entrevista de Guimarães Rosa a Günter Lorenz, constante da Introdução de Eduardo F. Coutinho da Obra Completa I, p. xxxi-lxv. JGR: Escrever é um processo químico; o escritor deve ser um alquimista. Naturalmente, pode explodir no ar. A alquimia do escrever precisa de sangue do coração. Não estão certos, quando me comparam com…
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Guimarães Rosa (GSV) – amor destino dado
Para que referir tudo no narrar, por menos e menor? Aquele encontro nosso se deu sem o razoável comum, sobrefalseado, como do que só em jornal e livro é que se lê. Mesmo o que estou contando, depois é que eu pude reunir relembrado e verdadeiramente entendido — porque, enquanto coisa assim se ata, a…
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Guimarães Rosa (GSV:) – esta vida está cheia de ocultos caminhos
Esta vida está cheia de ocultos caminhos. Se o senhor souber, sabe; não sabendo, não me entenderá. Ao que, por outra, ainda um exemplo lhe dou. O que há, que se diz e se faz — que qualquer um vira brabo corajoso, se puder comer cru o coração de uma onça pintada. É, mas, a…
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Guimarães Rosa (GSV): Sertão que se alteia e se abaixa
E piorou um tico o tempo, em Minas entramos, serra-acima, com os cavalos esticados. Aí o truvisco; e buzegava. O ladeirão, ruim rampa, mas pegamos a ponta da chapada. Foi ver, que com o vento nas orêlhas, o vento que não varêia de músicas. Tudo consabia bem, isto sim, digo; no remedido do trivial, espaço…
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Guimarães Rosa (GSV) – obedecer do amor
O nome de Diadorim, que eu tinha falado, permaneceu em mim. Me abracei com ele. Mel se sente é todo lambente — “Diadorim, meu amor…” Como era que eu podia dizer aquilo? Explico ao senhor: como se drede fosse para eu não ter vergonha maior, o pensamento dele que em mim escorreu figurava diferente, um…
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Guimarães Rosa (GSV) – alma não é vendível
Agora, bem: não queria tocar nisso mais — de o Tinhoso; chega. Mas tem um porém: pergunto: o senhor acredita, acha fio de verdade nessa parlanda, de com o demônio se poder tratar pacto? Não, não é não? Sei que não há. Falava das favas. Mas gosto de toda boa confirmação. Vender sua própria alma……
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Guimarães Rosa (GSV) – o real no meio da travessia
Por que era que eu estava procedendo à-tôa assim? Senhor, sei? O senhor vá pondo seu perceber. A gente vive repetido, o repetido, e, escorregável, num mim minuto, já está empurrado noutro galho. Acertasse eu com o que depois sabendo fiquei, para de lá de tantos assombros… Um está sempre no escuro, só no último…
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Guimarães Rosa (GSV) – O senhor vê aonde é o sertão?
O senhor nonada conhece de mim; sabe o muito ou o pouco? O Urucúia é ázigo… Vida vencida de um, caminhos todos para trás, é história que instrui vida do senhor, algum? O senhor enche uma caderneta… O senhor vê aonde é o sertão? Beira dele, meio dele?… Tudo sai é mesmo de escuros buracos,…
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Guimarães Rosa (GSV) – Rebulir com o sertão, como dono?
Rebulir com o sertão, como dono? Mas o sertão era para, aos poucos e poucos, se ir obedecendo a ele; não era para à força se compor. Todos que malmontam no sertão só alcançam de reger em rédea por uns trechos; que sorrateiro o sertão vai virando tigre debaixo da sela. Eu sabia, eu via.…
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Guimarães Rosa (GSV) – O grande-sertão é a forte arma
E nisto, que conto ao senhor, se vê o sertão do mundo. Que Deus existe, sim, devagarinho, depressa. Ele existe — mas quase só por intermédio da ação das pessoas: de bons e maus. Coisas imensas no mundo. O grande-sertão é a forte arma. Deus é um gatilho?
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Guimarães Rosa (GSV) – Excertos
E nisto, que conto ao senhor, se vê o sertão do mundo. Que Deus existe, sim, devagarinho, depressa. Ele existe — mas quase só por intermédio da ação das pessoas: de bons e maus. Coisas imensas no mundo. O grande-sertão é a forte arma. Deus é um gatilho? __5__ O senhor nonada conhece de mim;…