Conforme já observado, Ibn Arabi vê três caminhos básicos para obter conhecimento: aceitação de relatos, investigação racional e revelação. RELATOS são tudo o que nos é transmitido por outras pessoas. Ao avaliar a confiabilidade dos relatos, precisamos observar a fonte e a cadeia de transmissão. Os relatos provenientes de Deus por meio de cadeias confiáveis são, obviamente, os mais autorizados, e incluem as escrituras, especialmente o Alcorão. Outras fontes importantes incluem os profetas, cujas palavras podem ser equiparadas às de Deus, e os amigos de Deus. Há várias ESCALAS pelas quais os relatos e seus transmissores podem ser avaliados.
A segunda via de aquisição de conhecimento é a RAZÃO ou a faculdade racional. Ela é um meio de compreensão cuja função adequada é aceitar os relatórios e as REGRAS legais de Deus e manter o ser humano concentrado no caminho certo, restringindo o capricho, que é a vontade própria do servo. Além disso, a razão tem a tendência inata de separar e distinguir e, portanto, de ver o que Deus não é. Sua luz orientadora a direciona para o caminho certo, restringindo o capricho, que é a vontade própria do servo. Sua luz orientadora a conduz para tanzih e, se for deixada por conta própria, nunca aceitará que Deus possa ser semelhante a qualquer coisa, por isso rejeita tashbih.
REVELAÇÃO, a terceira rota, é o conhecimento que Deus dá diretamente aos servos quando Ele levanta os véus que O separam deles e “abre a porta” para a percepção de realidades invisíveis. Há vários tipos de revelação, e Ibn Arabi às vezes faz distinção entre eles, empregando termos como PROVA, TESTEMUNHO, ABERTURA e INSIGHT. De modo geral, a revelação está associada à IMAGINAÇÃO, porque normalmente ocorre por meio da imagística de várias entidades ou realidades invisíveis. Em outras palavras, coisas que normalmente são inacessíveis à percepção sensorial ou à razão recebem forma de Deus e são percebidas na imaginação por aqueles a quem a porta para as coisas invisíveis foi aberta. A revelação é uma ocorrência cotidiana para os profetas. Para os amigos de Deus, é uma HERANÇA dos profetas. GENTE DO DESVELAMENTO são os amigos de Deus de mais alto nível.
Um dos temas constantes de Ibn Arabi é a afinidade entre as rotas para o conhecimento e a compreensão de Deus que surge ao se seguir uma rota específica. Para conhecer qualquer coisa, a PREPARAÇÃO ou RECEPTIVIDADE humana é de extrema importância. De modo geral, aqueles com tendências racionais compreenderão Deus como distante e incomparável, e isso explica as preocupações dos especialistas em Kalam, filósofos, matemáticos e cientistas naturais. Aqueles que recebem a revelação encontrarão Deus presente e semelhante. Eles verão o cosmos e tudo o que há nele como a auto-revelação de Deus. Isso ajuda a explicar a ênfase dos sufis em viver na presença de Deus.
O conhecimento perfeito de Deus exige ver com dois olhos. Os amigos mais elevados de Deus, a quem Ibn Arabi chama por termos como GNÓSTICOS, a Gente de Deus (a Gente de Alá em SPK) e REALIZADORES, são aqueles que reconhecem Deus em Suas auto-revelações e, ao mesmo tempo, reconhecem Sua total incomparabilidade com tudo o que se encontra no si e no cosmos. Eles alcançaram o conhecimento do CORAÇÃO cujo batimento significa sua constante FLUTUAÇÃO entre compreender Deus como diferente, distante e incomparável e vê-Lo como igual, próximo e semelhante.
Os Realizadores alcançam seu conhecimento SEGUINDO A AUTORIDADE. Nenhum conhecimento é acessível sem uma aceitação inicial da autoridade dos relatos. Se a razão alcança o conhecimento, o faz com base na aceitação dos relatos transmitidos a ela pelos sentidos e pela REFLEXÃO. Como todo conhecimento remete à autoridade, Ibn Arabi sustenta que o único caminho racional é seguir a autoridade de Deus, e só podemos fazer isso aceitando os relatos trazidos pelos profetas.