Tr. Antonio Carneiro
Frequentemente, opõe-se o instante presente ao passado.
A salvação estaria na consciência do instante presente, e nossos infortúnios viriam de nossas lembranças, de nossas “estórias”.
Certamente, isso não é falso.
Mas gostaria de apenas assinalar, em passando no presente (mas pode-se passar alhures?), que o ato de atenção ao presente é uma forma de memória.
Explico-ME. É tudo simples, não temais.
Com efeito, prestar atenção ao presente, é chamar atenção ao momento presente. E chamar atenção, é um ato de chamamento. E o chamamento, é uma forma de memória.
Se exercer à estar no presente é certamente um tipo de memória particular, pois não se trata de se rememorar uma lembrança.
Todavia, é mais um exercício da memória.
Em outro lugar, em sânscrito, é exatamente a mesma palavra: smriti. A memória e a presença de espírito ao mesmo tempo. O poder de ressuscitar uma experiência passada e de manter atenção sobre o presente ou sobre um objeto presente.
Eis porque as pessoas que não tem senão uma fraca potência de memória tem em geral dificuldade com a consciência plena. E ao inverso, as pessoas dotadas de uma memória potente e também, frequentemente, de uma imaginação fértil, experimentam menos dificuldade para viver no presente, para ser consciente do presente, em uma presença global e silenciosa.
Em todos os casos, esta presença é memória. O poder de estar no presente e o poder de convocar o passado são então inseparáveis.