David Dubois: a plena consciência se opõe à memória ?

Tr. Antonio Carneiro

Frequentemente, opõe-se o instante presente ao passado.

A salvação estaria na consciência do instante presente, e nossos infortúnios viriam de nossas lembranças, de nossas “estórias”.

Certamente, isso não é falso.

Mas gostaria de apenas assinalar, em passando no presente (mas pode-se passar alhures?), que o ato de atenção ao presente é uma forma de memória.

Explico-ME. É tudo simples, não temais.

Com efeito, prestar atenção ao presente, é chamar atenção ao momento presente. E chamar atenção, é um ato de chamamento. E o chamamento, é uma forma de memória.

Se exercer à estar no presente é certamente um tipo de memória particular, pois não se trata de se rememorar uma lembrança.

Todavia, é mais um exercício da memória.

Em outro lugar, em sânscrito, é exatamente a mesma palavra: smriti. A memória e a presença de espírito ao mesmo tempo. O poder de ressuscitar uma experiência passada e de manter atenção sobre o presente ou sobre um objeto presente.

Eis porque as pessoas que não tem senão uma fraca potência de memória tem em geral dificuldade com a consciência plena. E ao inverso, as pessoas dotadas de uma memória potente e também, frequentemente, de uma imaginação fértil, experimentam menos dificuldade para viver no presente, para ser consciente do presente, em uma presença global e silenciosa.

Em todos os casos, esta presença é memória. O poder de estar no presente e o poder de convocar o passado são então inseparáveis.