====== Esoterismo e filosofia (Abellio) ====== (Abellio1987) //Mas como o esoterismo entrou em contradição com o seu gosto pela filosofia?// Eu não sou um filósofo acadêmico e, nessas condições, certamente tive uma formação filosófica muito variada, muito pouco sistemática. No final, a filosofia foi para mim mais um modo de vida do que um meio de aquisição de conhecimento! No início, o esoterismo me pareceu apenas um conjunto de filosofias entre outros. Não o submeti especificamente à crítica filosófica acadêmica. O que aconteceu foi quase o contrário. O esoterismo me ajudou muito a encontrar minha linha em meio ao caos ou ao ecletismo das doutrinas filosóficas. //No entanto, nas bases dos estudos filosóficos, há uma certa abertura, uma rigorosidade, enquanto os estudos esotéricos exigem um certo espírito de submissão!// O que você diz é uma verdade de chegada, não de percurso, e menos ainda de partida. No início, pode-se dizer que não há rigor algum no ecletismo filosófico acadêmico ou na escolástica acadêmica. Para mim, pelo menos, só bastante tarde encontrei o modo de pensamento filosófico rigoroso que eu precisava fundamentalmente para clarificar e unificar minha vida. Sempre tive uma exigência fundamental de racionalidade. Quando finalmente delineei as grandes linhas dessa filosofia, foi então que percebi o que se pode chamar de dogmatismo do esoterismo, pelo menos em sua formulação atual. E a filosofia, por sua vez, mas uma filosofia finalmente constituída em mim, me ajudou a me desprender desse resto de dogmatismo. De certa forma, comecei vivendo e só refleti depois. Creio que essa é a ordem normal, mesmo que nossa filosofia acadêmica produza em série pequenos monstros raciocinadores particularmente precoces. //Eles raciocinam, mas não refletem?// Todos são capazes de elaborar, sobre qualquer assunto e com muitas citações, um discurso estruturado em três pontos: primeiro, a solução empirista ou materialista, e por que ela não é boa; segundo, a solução idealista ou intelectualista, e por que ela deve ser rejeitada; terceiro, uma síntese equilibrada, um belo edifício verbal. A especulação filosófica tornou-se um mecanismo, uma espécie de função intelectual independente de qualquer outra função vital. Sempre me surpreendo, ao observar esse mecanismo em funcionamento, que tenhamos tantas pessoas ao mesmo tempo tão eruditas e tão pouco vivas. Essa maneira de especular, no fundo, é a forma delas de viver, de viver à margem da vida; é a forma de agir delas, como se a ação, em todos os domínios, até mesmo nesse, fosse o produto de um temperamento mais do que de uma reflexão.