====== Anirvan (LRVV) – sat-chit-ananda ====== LRVV Existem dois //sâmkhya//: o primeiro é filosófico, o segundo místico. O //sâmkhya// filosófico, formulado por //Ishvara Krishna// ], é reconhecido na Índia como o sistema de pensamento fundamental que indica tanto ao //yogin// quanto ao anacoreta o caminho ascendente da busca espiritual. Trata-se de uma filosofia profundamente negativa que exerceu uma influência muito pesada sobre toda a vida medieval da Índia. É esse //sâmkhya// que é conhecido no Ocidente. Mas esse //sâmkhya// é também um canto místico, encravado nos //Vedas// e nas //Upanishads//, que encontrou ao longo dos séculos sua expressão livre e límpida nos //Purânas// e nos //Tantras//, sobretudo nas escrituras sagradas posteriores. Pode-se dizer que toda a expressão de vida nos //Tantras// não é outra senão a de um //sâmkhya// cujas fontes podem ser encontradas nos versos mais antigos dos //Vedas//. Ali, o mundo não é negado. O princípio da felicidade suprema (//ânanda//) não é ignorado, mas recebe outro nome: chama-se //samprâsada//, que nas //Upanishads// é o estado do sono "sem sonhos", um sono no qual o espírito está interiormente desperto. Nada está presente para experimentar coisa alguma. Existe apenas uma alegria tranquila que pode se prolongar no estado desperto. Não se trata de fugir da dor, mas de transpô-la no abraço que //Kâlî// tem por //Shiva// prostrado sob ela, tecnicamente descrito nos //Tantras// pela palavra //viparita rati// (ou o coito invertido), no qual o //Purusha// passivo aceita até mesmo a morte e a destruição pela //prakriti// ativa. Ali, o mal e a dor, diligentemente evitados pelo //sâmkhya// que nega o mundo, são, ao contrário, transformados em felicidade (//ânanda//). Mas os místicos acrescentaram outra contribuição à sua experiência. Eles sentiram que, para uma alma realizada, o sofrimento em si mesmo é um redemoinho de felicidade. É nisso que um //Râmakrishna// ] pôde dizer: "Na totalidade, tudo é //sat-chit-ânanda//. Até meu sofrimento é apenas uma parte da experiência de existir e ocupa apenas um lugar ínfimo na experiência total de 'ser', na experiência da consciência na felicidade." Dessa experiência profunda, o //sâmkhya//, integrado à vida como na //Gîtâ//, considera a //prakriti// como sendo tripla: a //prakriti// inferior (//aparâ//), a //prakriti// superior (//parâ//) e a //prakriti// que é nossa própria (//paramâ// ou //swiyâ//). O //sâmkhya// filosófico considera apenas a //prakriti// inferior, que não é senão um complexo das qualidades //sattva//, //rajas// e //tamas// sempre entrelaçadas, embora uma delas seja necessariamente preponderante. Mas também pode existir uma qualidade pura (//shuddha sattva//) que não seja tocada nem manchada por //rajas// e //tamas//. Trata-se então da //prakriti// superior, mencionada várias vezes na literatura //purânica// e //tantrica//. Essa ideia de //sattva// pura rege todas as filosofias práticas dos místicos da Índia. Essa //sattva// pura nada mais é do que a felicidade eterna (que não existe em //rajas//) e a iluminação eterna (que não existe em //tamas//) coexistindo no ser espiritual. Tal é a concepção integral de //sat-chit-ânanda// comum às filosofias místicas do //sâmkhya// e do //vedanta//.