====== Corbin (CETC:52-53) – Imago Terrae ====== Nem a aurora, nem as águas correntes, nem as plantas são percebidas como equivalentes ao que chamamos de fenômenos astronômicos, geológicos ou botânicos. A aurora em que se mostra Daena, as águas celestes de Ardvî Sûrâ, as plantas de Amertât — todas, auroras, águas e plantas, são percebidas em seu Anjo, porque sob sua aparência, é essa aparição que se torna imaginativamente visível. E tal é aqui o fenômeno do Anjo: a figura que a Imaginação ativa se mostra, se revela a si mesma sob as aparências percebidas, é a figura dos Anjos da Terra. É por isso que os fenômenos terrestres são mais que fenômenos: são as hierofanias propriamente mazdeístas que, nos seres e nas coisas, revelam quem são esses seres e essas coisas, ou seja, quem é sua pessoa celeste, fonte de seu Xvarnah. Dito de outro modo: transmutados pela Imaginação em seu estado sutil (mênok), seres e coisas se revelam como os atos de um pensamento pessoal, eles são suas hierurgias. A Imaginação ativa percebe, mostra a si mesma uma outra Terra que esta Terra visível à experiência sensível comum. Essa outra Terra é a Terra que o Xvarnah irradia e transfigura. Mas a Luz-da-Glória certamente não é uma qualidade material inerente às substâncias sensíveis e perceptível indiferentemente por todos os homens; fenomenologicamente, devemos compreendê-la como sendo ao mesmo tempo a Luz celeste que constitui, aureola e ilumina a alma, e como a Imagem primordial de si mesma que a alma projeta, e que é assim o órgão pelo qual ela se mostra a si mesma as coisas terrestres transfiguradas, ou na expectativa da Transfiguração final. É necessário, de fato, que a alma tenha de si mesma uma Imagem tal que possa, ao projetá-la, reencontrar em sua visão as figuras dessa Luz-da-Glória. É na alma levada à incandescência por essa Luz-da-Glória, com a qual finalmente se identifica, que se torna possível ver, como Fechner, que "a Terra é um Anjo", ou melhor, que a Terra seja vista em sua pessoa celeste, e que sejam vistos, por e com esta, todos os Anjos femininos da Terra, como "irmãs" ou como "mãe" do Anjo Daena, o Eu celeste, Anima caelestis. É porque a Imagem da Terra é imaginada à Imagem da alma que ela se revela aqui sob a forma de um Anjo; sua homologia se revela na própria parentesco de seus Anjos. Podemos então dizer isto: Imago Terrae significa, ao mesmo tempo que o próprio órgão de percepção, o que é percebido dos aspectos e das figuras da Terra, não mais simplesmente pelos sentidos nem como dados sensíveis empíricos, mas pela Forma imaginal, a Imagem-arquétipo, a Imagem a priori da própria alma. A Terra é então uma visão, e a geografia uma geografia visionária, uma "geografia imaginal". Desde então, é essa imagem sua e sua própria Imagem que a alma encontra e reencontra. Essa Imagem projetada por ela é ao mesmo tempo aquela que a ilumina e aquela que lhe reflete as figuras à sua Imagem, figuras das quais reciprocamente ela é ela mesma a Imagem, a saber: os Anjos femininos da Terra que estão à Imagem de Daena-Anima. É por isso que a fenomenologia mazdeísta da Terra é propriamente uma angelologia.