====== Heidegger e Chuang Tzu (Saviani) ====== //Saviani2004// O primeiro encontro documentado de Heidegger com o taoísmo é um episódio narrado por H. W. Petzet, crítico de arte e amigo de longa data do filósofo, em //Die Bremer Freunde// e, posteriormente, em sua apaixonada biografia de Heidegger. O episódio refere-se à conferência que Heidegger proferiu em Bremen, em 8 de outubro de 1930, intitulada //Vom Wesen der Wahrheit//, publicada depois em 1943. Petzet recorda que a conferência, realizada em um auditório lotado do Realgymnasium, deixou o público visivelmente inquieto: "Os ouvintes saíram da sala em silêncio" (//Die Bremer Freunde//, p. 183). A noite terminou com um longo encontro na casa de Kellner, onde, entre outros temas, discutiu-se a possibilidade de um ser humano colocar-se no lugar de outro. De repente, Heidegger pediu ao anfitrião: "Por favor, me dê o //Chuang-tzu//". O silêncio geral fez com que ele temesse ter sido inoportuno, considerando o tipo de relações entre os presentes—solicitar um livro completamente desconhecido e colocar Kellner em um dilema. No entanto, Kellner não hesitou, desculpou-se e subiu à biblioteca, retornando minutos depois com a edição de Buber do //Chuang-tzu//. O espanto foi seguido por um aplauso libertador. Heidegger então leu o conto "A alegria dos peixes" e, mais uma vez, cativou todos os presentes com seu carisma. Na biografia citada, além da repetição desse episódio (p. 24), encontram-se outros indícios do interesse de Heidegger pelo pensamento de //Chuang-tzu//: Em 1949, Heidegger ministrou um seminário privado em Bremen sobre //Wort und Bild// (//Palavra e imagem//), no qual, além de um trecho de Agostinho, um fragmento de Heráclito, uma conferência de Klee e um dístico do próprio Heidegger extraído de //Aus der Erfahrung des Denkens//, incluiu o relato "O suporte dos sinos", presente no //Chuang-tzu//. Além disso, em uma conferência pronunciada em Comburg, em 18 de julho de 1962, durante um curso para professores, Heidegger citou integralmente o conto "A árvore inútil" do //Chuang-tzu// (trad. R. Wilhelm).