====== Ibn Arabi (TA) – Fundamentos do Amor ====== IATA Que se saiba — e que //Deus// te favoreça — o //amor// é uma estação divina (//maqâm ilâhî//). //Deus// Se qualificou ao Se nomear (no Alcorão) o //Infinitamente Amável e Amoroso// (//wadūd//) e, nos ditos proféticos, o //Amante// (//muhibb//). Na Torá, //Deus// fala a Moisés desta forma: «Ó filho de Adão! Pelo direito que te concedi, Eu te amo (//muhibb//), e pelo direito que tenho sobre ti, ama-Me.» O //amor// (//mahabba//) é mencionado, no Alcorão e na //Sunna//, tanto como privilégio de //Deus// quanto das criaturas. //Deus// relata as diferentes categorias de seres amados (//mahbûbûn//) e suas características, assim como as disposições daqueles que Ele não ama, especificando bem as famílias de seres às quais pertencem. //Deus// ordena a Seu Profeta — sobre ele a graça e a paz — que nos transmita esta prescrição: //Dize: Se amais a Deus, segui-me// (refere-se ao Profeta), //então Deus vos amará// (Alcorão III, 31). //Deus// também especifica: //Ó crentes! Aquele que se desvia de sua religião entre vós... sabei que Deus suscitará homens que Ele amará e que O amarão...// (Alcorão V, 54). //Deus// assim Se expressa sobre os seres que ama: //Deus ama aqueles que incessantemente retornam a Ele e ama os que se purificam// (Alcorão II, 222). //Ama os que nEle confiam// (Alcorão III, 159). //Ama os constantes// (Alcorão III, 146). //Ama os sinceros. Ama os que agem com perfeição// (//muhsinûn//) (Alcorão II, 195). //Ama os que agradecem. Ama os que combatem em Seu caminho como se fossem um edifício sólido// (Alcorão LXI, 4). Ao contrário, quando //Deus// Se recusa a amar certos seres devido a características que desaprova, deixa claro que tais características devem desaparecer — mas apenas e necessariamente pela manifestação de seus opostos. Assim, //Deus// diz: //Deus não ama os corruptores nem ama a corrupção// (Alcorão V, 64). Ora, o oposto dessa atitude é a integridade (//çalâh//), e o abandono da primeira determina a última. //Deus// diz: //Deus não ama os impetuosos// (Alcorão XXVII, 76). //Não ama o arrogante nem o presunçoso// (Alcorão VI, 141). //Não ama os injustos// (Alcorão XLII, 40). //Não ama os excessivos// (Alcorão VI, 141). //Não ama os incrédulos// (Alcorão XXX, 45). //Não ama a divulgação do mal pela palavra// (Alcorão IV, 148). //Não ama os agressores// (Alcorão II, 190). Além disso, //Deus// ama que demonstremos qualidades — algumas pertencentes a um mero embelezamento da alma (//tazytn//), outras de valor absoluto (//mutfaqa//). Por solicitude, //Deus// diz: //Mas Deus vos fez amar a fé e a embelezou em vossos corações// (Alcorão XLIX, 7). E esclarece no mesmo sentido: //Foi tornado belo aos homens o amor dos desejos concupiscentes...// (Alcorão III, 14). Revelou, sobre os dois cônjuges: //Entre Seus sinais está haver criado, de vós mesmos, companheiras, para que junto a elas encontreis paz. E estabeleceu entre vós afeto// (//mawadda//) //e misericórdia// (//rahma//) (Alcorão XXX, 21). //Deus// proibiu que tivéssemos afeição por Seus inimigos : //Ó crentes! Não tomeis por aliados// (//awliyâ’//) //Meus inimigos e os vossos, demonstrando-lhes afeição// (Alcorão LX, 1). No Alcorão, o //amor// é mencionado em muitos lugares. Há numerosos ditos proféticos sobre o //amor//, como os seguintes: O Profeta — sobre ele a graça e a paz — relatou palavras de //Deus//: //«Eu era um Tesouro (oculto); não era conhecido. Mas amei ser conhecido. Criei, então, as criaturas e Me dei a conhecer a elas, para que Me conhecessem.»// Disso resulta que //Deus// nos criou //para Si//, não para nós mesmos. Por isso, a recompensa está ligada aos atos: se agimos por nós e não por Ele, nossa adoração (//‘ibâda//) é //para Ele//, não para nós — ainda que a servitude adorativa não seja o ato em si. Os comportamentos exteriores das criaturas Lhe pertencem, pois Ele permanece o //Agente// (verdadeiro). A perfeição dos atos Lhe é atribuída, como convém, pois tudo procede dEle, conforme Sua palavra: //Pela alma e como Ele a formou harmoniosamente, inspirando-lhe sua impiedade e seu temor piedoso// (Alcorão XCI, 7-8). //Deus vos criou e o que fazeis// (Alcorão XXXVII, 96). //Tal é Deus, vosso Senhor. Não há deus senão Ele, Criador de tudo. Adorai-O, pois...// (Alcorão VI, 106). Os atos dos servos, portanto, estão incluídos nessas revelações. O Mensageiro de //Deus// — sobre ele a graça e a paz — disse: //«Deus declarou: “Aqueles que se aproximam de Mim fazem-no pelas obras que mais amo: o cumprimento dos atos prescritos. O servo não cessa de se aproximar de Mim por obras suplementares (//nawâfil//) até que Eu o ame. E quando Eu o amo, sou seu ouvido com o qual ouve, sua vista com a qual vê, sua mão com a qual segura e seu pé com o qual avança.”»// É devido a essa epifania divina (//tajallî//) que alguns defenderam a doutrina da unificação (//ittihâd//) . //Deus// não disse: //Não foste tu quem lançou, quando lançaste, mas foi Deus quem lançou// (Alcorão VIII, 17)? E: //Deus vos criou e o que fazeis// (Alcorão XXXVII, 96)? Encontram-se ainda estes ditos proféticos: //«Deus ama o sedicioso arrependido.» «Amai a Deus pelos bens que Ele concede em Suas graças.» «Deus é belo (//jamîl//), ama a Beleza (//jamâl//).» «Em verdade, Deus ama que O louvem.» «Foi-me feito amar três coisas deste mundo: as mulheres, a oração e os perfumes suaves.»// Os ditos proféticos sobre este tema são abundantes. Saiba que a estação (//maqâm//) do //amor// é uma distinção elevada, e que o //amor// é o princípio (//açl//) da //Existência universal// (//wujûd//). //Do amor viemos.// //Pelo amor fomos feitos.// //Para o amor nos voltamos.// //Ao amor nos entregamos.//