====== Ibn Tufayl – Conhecimento do Autor do universo ====== VMAnthologie Quando adquiriu o conhecimento desse Ser cuja existência não tem causa e que é a causa da existência de todas as coisas, ele quis saber por que adquiriu esse conhecimento, por meio de que faculdade percebia esse Ser. Ele examinou seus sentidos, a audição, a visão, o olfato, o paladar e o tato, e viu que todos eles percebem apenas corpos, ou o que reside nos corpos; a audição percebe apenas os sons, que resultam das ondulações do ar que se produzem quando os corpos se chocam; a visão percebe apenas as cores; o olfato, os cheiros; o paladar, os sabores; o tato, as temperaturas, a dureza e a maciez, o áspero e o liso; da mesma forma, a faculdade imaginativa alcança apenas o que tem comprimento, largura e profundidade. Todos esses objetos de percepção são propriedades dos corpos; e os sentidos não podem perceber nada mais, porque são faculdades espalhadas pelos corpos, divisíveis ao mesmo tempo que eles: por isso, eles só percebem corpos, suscetíveis de divisão. Pois, estando tal faculdade espalhada em uma coisa divisível, é indubitável que, quando ela apreende um objeto, esse objeto deve necessariamente ser dividido de acordo com as divisões da própria faculdade. E, consequentemente, toda faculdade (espalhada) em um corpo apreende apenas corpos ou o que reside nos corpos. Ora, já estava estabelecido que esse Ser necessário é absolutamente isento de qualidades corporais; portanto, ele só poderia ser percebido por algo que não fosse um corpo, nem uma faculdade (difusa) em um corpo, nem uma dependência dos corpos sob qualquer título, que não fosse nem interior nem exterior aos corpos, nem unido aos corpos, nem separado dos corpos. Era-lhe, portanto, evidente que ele percebia esse Ser por sua própria essência e que tinha essa noção gravada em si; daí concluiu que sua própria essência, pela qual ele O percebia, era uma coisa incorpórea, à qual não se adequava nenhuma das qualidades dos corpos; que toda a parte exterior e corpórea que ele percebia em seu ser não era sua verdadeira essência, e que sua verdadeira essência consistia apenas naquilo por meio do qual ele percebia o Ser necessário.