====== Maiêutica de Lin-tsi ====== //Hermes-Tchan// Essa preocupação com a metodologia maiêutica aparece em muitas passagens que retratam "consultas sobre o Ch'an" (ts’an tch’an), onde o consultante é chamado de "visitante" e o consultado de "anfitrião". A consulta é recíproca, e o consultado, ou seja, o mestre, é examinado, literalmente "analisado" (k’an-pien) pelo consultante ou discípulo, assim como ele mesmo analisa este último; entre os dois estabelece-se uma espécie de disputa na busca comum pela verdade, cada um tentando desalojar seu interlocutor de posições consideradas falsas e fazê-lo desistir. Esse tipo de disputa não foi uma invenção de Lin-tsi; aparece frequentemente na literatura do Ch'an de sua época, e além disso tinha muitos antecedentes na China. Foi em breves diálogos com seus discípulos, por meio de máximas e perguntas insidiosas, que o próprio Confúcio praticava sua maiêutica, e no início das Seis Dinastias os jogos de espírito cultivados pelos letrados sob o nome de "conversas purificadas" (ts’ing-t’an), com suas aporias e respostas sutis, também prefiguravam o estilo do Ch'an da era Tang. É durante esses "combates espirituais" que surgem em Lin-tsi, em condições bem determinadas, os golpes de bastão e as exclamações "khat", estas últimas substituindo palavras inadequadas quando se trata de noções que transcendem a fala. Aqui está, novamente na forma de um tetralema, um programa traçado por Lin-tsi para essas consultas, no qual ele distingue quatro casos, quatro possibilidades; traduzo este texto de forma um pouco livre (A. 70; Y. 19): 1) Exame do anfitrião pelo visitante, ou seja, do consultado pelo consultante, do mestre pelo aluno. O visitante diz "khat", depois coloca uma armadilha para o anfitrião (literalmente, "coloca um pote de cola" nele), ou seja, submete a ele, para testá-lo, uma pergunta, um tema, um assunto de má qualidade no qual o mestre pode se enredar. Se o anfitrião cai na armadilha, o visitante diz "khat" novamente. Se o anfitrião não quer desistir, é um caso de doença incurável. 2) Exame do visitante pelo anfitrião. O anfitrião não faz nenhuma pergunta; espera que o visitante lhe faça uma, e então elimina o objeto da pergunta, ou seja, esforça-se para levar o consultante a desistir de tal ou qual questão considerada absurda e perigosa. Mas o visitante não quer ceder e resiste até a morte. 3) Exame de um anfitrião por um anfitrião (os dois interlocutores estão em igualdade, cada um desempenhando em relação ao outro o papel de um consultado, ou seja, de um mestre). O visitante faz ao anfitrião uma pergunta sobre um tema "puro" (por exemplo, sobre o absoluto, o Buda, o Nirvana ou outras noções boas e puras, mas às quais não se deve se apegar mais do que a noções más e impuras: em suma, sublimações). O anfitrião reconhece a armadilha e rejeita o tema proposto, literalmente "joga-o na fossa". O visitante o parabeniza por isso, mas o anfitrião recusa os parabéns. Então o visitante se inclina diante dele. Ambos merecem ser considerados "anfitriões", ou seja, mestres. 4) Exame de um visitante por um visitante (o consultante e o consultado comportam-se ambos como maus alunos e competem em tolice). O visitante se apresenta ao anfitrião "com uma canga no pescoço e carregado de correntes", ou seja, sobrecarregado com uma bagagem de complexos, ideias vãs, preconceitos morais, etc. O anfitrião coloca nele mais uma canga e novas correntes (ele entra no jogo discursivo em vez de cortá-lo, aconselha o visitante a ler mais tal ou qual livro, a observar ainda mais prescrições morais ou rituais). O visitante se alegra com isso. Nenhum dos dois entende nada.