====== Bistami (875) – Lembrança de Deus ======

MSRMI

Enquanto eu dormia, parecia que eu ascendia aos céus em busca de Deus, buscando a união com Deus Gloriosíssimo, para que eu pudesse habitar com Ele para sempre, e fui testado por uma provação. Deus exibiu diante de mim dons de todos os tipos e me ofereceu domínio sobre todo o céu, e ainda assim desviei meus olhos disso, porque sabia que Ele estava me testando com isso, e não me virei para isso, por reverência à santidade de meu Senhor e eu disse a respeito de tudo: "Ó meu Amado, meu desejo é outro que o que me é oferecido". Então ascendi ao Segundo Céu e vi anjos alados, que voam cem mil vezes a cada dia para a terra, para contemplar os santos de Deus, e seus rostos brilhavam como o sol. Eu segui viagem e quando cheguei ao Sétimo Céu, um me chamou: "Ó Abū Yazid, pare, pare, pois chegou ao objetivo", mas não dei atenção às suas palavras e continuei minha busca. E quando Deus Altíssimo percebeu a sinceridade do meu desejo de buscá-Lo, Ele me transformou em um pássaro, e eu continuei a voar, passando reino após reino, e deserto após deserto, e planície após planície e mar após mar, e véu após véu, até que eis que o anjo do escabelo de Deus me encontrou com um pilar de luz e me disse: "Pegue-o" e eu o peguei. E eis que os céus e tudo o que neles havia buscaram refúgio na sombra da minha gnose, e buscaram luz na luz do meu anseio, contudo todos os anjos pareciam apenas como um mosquito, comparados com a minha preocupação absorvente com a busca por Deus.
Então continuei a voar, até que cheguei ao escabelo de Deus, e eis que fui encontrado por anjos, cujos olhos eram como o número das estrelas do céu, e de cada olho irradiava luz e essas luzes se tornaram lâmpadas e ouvi soar de cada lâmpada: "Glória a Deus" e "Não há Deus senão Deus". Então continuei voando até que cheguei a um mar de luz, com ondas batendo umas contra as outras, e ao lado dele a luz do sol pareceria escura, e sobre o mar havia navios de luz, comparados aos quais a luz daquelas águas parecia ser escuridão. Continuei a cruzar mar após mar até que cheguei ao maior dos mares, sobre o qual se encontra o Trono do Misericordioso. Continuei a nadar nele, até que contemplei, olhando do Empíreo para a terra abaixo, os querubins e aqueles que sustentavam o Trono, e todos a quem Deus criou tanto no céu quanto na terra, como menos que uma semente de mostarda flutuando entre os céus e a terra, em comparação com o voo do meu espírito na busca por Deus.
E quando Deus Gloriosíssimo percebeu a sinceridade do meu desejo de buscá-Lo, Ele me chamou e disse: "Ó Meu escolhido, aproxima-te de Mim e ascende às alturas da Minha glória e às planícies do Meu esplendor e senta-te no tapete da Minha santidade, para que possas ver a atuação da Minha graça no tempo determinado. És o Meu escolhido e o Meu amado e o Meu eleito entre as criaturas." Então comecei a derreter, como chumbo derrete no calor do fogo. Então Ele me deu de beber da fonte da Graça no cálice da comunhão e me transformou em um estado indescritível e me trouxe para perto Dele, e tão perto Ele me trouxe que me tornei mais próximo Dele do que o espírito do corpo. Continuei assim até que me tornei como as almas dos homens haviam sido, naquele estado antes que a existência fosse e Deus habitasse em solidão, sem existência criada ou espaço ou direção ou modo de ser — que Sua glória seja exaltada e Seu Nome santificado.