====== Milloué (1905) – Vishnu: Deus Benevolente e Protetor ====== Milloué1905 Vishnu surge como o deus bom, preservador e protetor da criação, essencialmente benevolente. Sua ira só se manifesta contra inimigos dos deuses e da humanidade — demônios, tiranos ou ímpios. Ele parece ter herdado os principais atributos e funções de Indra como protetor dos áryas, uma conexão que se justifica pelo papel de aliado e alter ego que lhe é atribuído em alguns hinos do Rigveda. ==== O Caráter de Vishnu na Literatura Posterior ==== Nos textos brâmanes e hindus, Vishnu se consolida como: * Protetor e salvador do mundo, sempre pronto a combater as forças do caos. * Estrategista divino, capaz de resolver situações difíceis onde outros deuses falham (muitas vezes por fraqueza ou concessões imprudentes). * Astuto e sagaz, traço marcante de sua personalidade mitológica. ==== A Origem Solar ou Ígnea de Vishnu? ==== Muitos mitólogos, indianos e europeus, veem Vishnu como uma personificação solar, baseando-se em: * Seu caráter luminoso. * A lenda de seus três passos (associados às três posições do sol: nascente, zênite e poente). * Suas batalhas contra demônios, forças das trevas e do mal. No entanto, o Rigveda o associa mais a Agni (o fogo) do que ao sol: * Seus três passos podem representar as três moradas de Agni (terra, atmosfera e céu), não apenas o curso solar. * Nas narrativas brâmanes e purânicas, Vishnu nunca aparece no céu, mas sim na terra, no altar sacrificial, com cores que lembram chamas (vermelho, amarelo-dourado) ou fumaça (negro). * Em muitos textos, ele é identificado ao próprio sacrifício (yajña), cuja essência é o fogo sagrado. Conclusão: Vishnu personifica o fogo do sacrifício, mas sua ligação com o sol também é válida, já que, nos Vedas, o sol é visto como fogo celestial, e o sacrifício terrestre é seu reflexo. ==== O Paradoxo da Inatividade Divina ==== Apesar de ser o preservador ativo do universo, Vishnu também encarna um princípio profundo do pensamento indiano: * A perfeição divina está na ausência de ação e desejo. * Qualquer atividade, mesmo benevolente, implica paixão (desejo de agir), o que seria uma limitação para um deus supremo. Assim, Vishnu age sem agir — suas intervenções são manifestações espontâneas de sua natureza, não fruto de esforço ou vontade. Essa visão reflete o ideal de liberação (moksha), onde o estado mais elevado é a pura existência, livre de ação e apego. ==== Resumo das Características de Vishnu ==== Aspecto Descrição Função Preservador do universo, protetor contra o caos. Origem Herdeiro de Indra, associado a Agni (fogo) e ao sol. Mito dos Três Passos Simboliza domínio sobre os três mundos (terra, atmosfera, céu) ou o curso solar. Representação Cores ígneas (vermelho, dourado, negro), ligado ao sacrifício (yajña). Paradoxo Divino Age no mundo, mas sua essência é a inação perfeita. Essa dualidade — deus ativo mas não apegado — faz de Vishnu uma figura única, equilibrando proteção cósmica e serenidade absoluta. Assim como todos os outros deuses, Vishnu tem uma companheira: Lakshmi, a deusa da beleza e da fortuna, nascida da espuma do oceano durante o "Batedor do Oceano de Leite" (Samudra Manthan). Símbolo da fidelidade e amor conjugal, Lakshmi nunca abandona seu esposo e encarna-se junto com ele em suas aparições terrenas: * Como Sita para Rama * Como Rukmini e Radha para Krishna