====== G. H. Schubert ====== Apresentação de Patrick Valette (Schubert1982) Ele descobriu em primeiro lugar a mitologia, inicialmente através de seu colega, o excelente orientalista J.A. Kanne, e depois pelas obras de Friedrich Creuzer, cuja obra principal, //Symbolik und Mythologie der alten Völker, besonders der Griechen// (Simbolismo e Mitologia dos Povos Antigos, Particularmente dos Gregos, 4 vols.), foi publicada em Leipzig entre 1810 e 1812. Mas a descoberta essencial dessa época foi a do pensamento místico e teosófico. Ele foi introduzido ao primeiro por uma figura singular, "o padeiro místico" G.M. Burger, que orientou de maneira decisiva seu pensamento religioso. Burger o fez descobrir pensadores como Mestre Eckhart, Ruysbroeck, Gottfried Arnold, Swedenborg, Tersteegen, e o familiarizou com as obras dos pietistas suábios. Essas obras reforçaram nele as tendências pietistas herdadas de sua infância e de seu ambiente familiar. Ele também descobriu, e sobretudo, a teosofia na figura do eminente Franz von Baader (1765-1841), a quem conheceu no final de 1809 em Nuremberg. Esse espírito fecundo, discípulo de Saint-Martin e divulgador de suas ideias na Alemanha, exerceu uma influência decisiva sobre Schubert, introduzindo-o ao pensamento do "Filósofo Desconhecido". Baader chegou a recomendar-lhe que traduzisse //De l'esprit des choses// (publicado em 1800), o que ele fez em 1811, e a tradução de Schubert foi publicada sob o título //Vom Geist und Wesen der Dinge// em dois volumes (1811 e 1812), com um prefácio de Baader no segundo tomo. A descoberta da teosofia, e especialmente do "iluminismo" de Saint-Martin, foi uma revelação para Schubert. Ele a acolheu com entusiasmo, e ela provocou nesse ser receptivo uma verdadeira revolução. Foi a partir dessa época que ele começou a se afastar da //Naturphilosophie// schellingiana para adotar a do "Filósofo Desconhecido", assim como muitas intuições místicas dos pensadores que acabara de descobrir. //A Simbólica//, aliás, como veremos, é testemunha e balanço dessa evolução, tanto no nível das ideias quanto no da forma. A gênese dessa obra é bem conhecida. Schubert tinha em mente, após a publicação de sua tradução, completar seus //Ahndungen//, cujo segundo volume, lançado em 1807, estava inacabado. Ele queria dedicar uma parte importante ao sonho, como indicou em seu prefácio. Mas um encontro inesperado o desviou de seu projeto inicial e suscitou a elaboração da //Simbólica//. Albert Béguin, em seu livro magistral //A Alma Romântica e o Sonho// (pp. 106-107), reconta de maneira muito saborosa a anedota do encontro entre Schubert e o editor Carl Friedrich Kunz, de Bamberg, uma figura curiosa, comerciante de vinhos e editor improvisado, que publicou em 1813 os //Phantasiestücke// do //Kapellmeister// E.T.A. Hoffmann. Em julho de 1813, Schubert e sua esposa foram convidados por Wetzel para uma noite no jardim do habilidoso Kunz. Mas deixemos o próprio Schubert falar: //"Havia uma sociedade agradável, uma música encantadora embalava nossos ouvidos, e a bebida que alegra o coração do homem não faltava . O senhor Kunz, que estava prestes a abrir uma livraria funcionando junto com seu comércio de vinhos, me convidou a lhe dar uma obra de minha autoria para publicar. O que eu deveria escrever para ele, uma chave dos sonhos? — Exatamente, respondeu nosso amável anfitrião, dê-me uma chave dos sonhos, eu a publicarei com grande prazer. Esqueci rapidamente o que havia dito apenas por brincadeira, pois em toda a minha vida nunca havia visto ou lido um livro sobre sonhos; mas mal havia chegado a Nuremberg quando Kunz me lembrava gentilmente da promessa."// A //Simbólica// foi composta rapidamente, durante o inverno de 1813-1814, e publicada em abril de 1814. Kunz, tão astuto como editor quanto como comerciante de vinhos, havia feito uma hábil publicidade para essa nova obra do autor dos //Ansichten//, de modo que ela já tinha, antes mesmo de ser escrita, uma surpreendente fama entre os amantes da //Naturphilosophie//. Hoffmann escreveu já na primavera de 1814 ao seu editor: //"Mande, mande, oh! mande-me logo a Simbólica! Estou sedento por ela."//