====== Wilberg (AA) – Objeto e Significante em Klein e Lacan ====== PWAA Enquanto o termo 'objeto' é central no pensamento kleiniano e na teoria das 'relações de objeto', na teoria lacaniana o termo 'significante' toma o lugar do 'objeto'. A ausência completa ou 'forclusão' da função paterna que define a 'psicose' para Lacan é a ausência de um objeto central, significante ou //objeto significante// necessário para a constituição da subjetividade do indivíduo através da fala. Uma diferença fundamental entre Klein e Lacan, no entanto, é que, enquanto para a primeira o 'objeto' central e mais significativo e, portanto, também o lócus da perda de objeto é a //mãe//, para Lacan o que é central é o falo – não como pênis, mas como um símbolo geral ou significante da //ausência// e, portanto, do desejo da mãe. A criança assume que deve preencher a //falta// que define o desejo da mãe – e todo desejo – //tornando-se o falo//. Por 'falo', então, não se entende o pênis nem qualquer 'símbolo fálico' dele. Em vez disso, Lacan entende o 'simbolismo fálico' de uma maneira bastante diferente – como 'o falo simbólico' e uma //função// simbólica. Essa função não é servir como objeto simbólico //de// desejo, mas sim como um //significante// de 'desejo' – o desejo em si sendo entendido não como algo com um objeto definido ou 'significado' que pode satisfazê-lo, mas sim como uma //falta// que nunca pode ser objetificada ou satisfeita. É aqui que a nova distinção triádica de Lacan entre //necessidade, desejo e demanda// é de fundamental importância. Enquanto as necessidades têm um objeto que pode satisfazê-las e podem ser articuladas na linguagem como pedidos, o desejo como tal tem um caráter absoluto de 'demanda' por amor incondicional que nunca pode ser satisfeito através da satisfação da necessidade. 'Desejo' é o 'resíduo' indeterminado (sem objeto) e, portanto, insatisfazível da satisfação da necessidade, transformando assim a própria satisfação da necessidade em uma fonte potencial de frustração – a frustração desse //desejo// que não pode ser atendido por nenhum objeto de necessidade, fornecido ou retido, atingível ou inatingível. A intensificação infantil das //demandas// por satisfação da necessidade da mãe – ou de qualquer outro – é uma expressão dessa lacuna frustrante entre as necessidades e sua satisfação, por um lado, e o desejo, por outro. Esse //resíduo// ou //falta// no cerne do desejo também corresponde, nos termos de Lacan, à //lacuna// inevitável entre a linguagem – 'o significante' – e qualquer coisa que se busque significar ou simbolizar através dela. O falo é, portanto, não apenas significante do desejo, mas um //significante de todos os significantes// – todos os quais abrem uma lacuna entre significante e significado que tem o caráter fundamental do desejo, entendido como uma falta insatisfazível. Na interpretação de Lacan de Freud, então, a falta no cerne do desejo da mãe não é o pai real e seu pênis, mas o falo como significante da falta e da 'função paterna'. Para a criança, a função paterna é o papel da palavra do pai – e da linguagem como tal – no processo de socialização através do qual a criança é levada além de seu vínculo diádico primordial com a mãe e para o mundo maior da comunicação social com seus signos e símbolos culturais. Uma implicação significativa dessa compreensão é que a essência de qualquer 'cura pela fala' reside precisamente em //não// ser redutível ao seu aparente meio profissional – uma interação puramente um-para-um ou //diádica// entre um analista, terapeuta ou conselheiro e seu analisando ou cliente. Pelo contrário, no contexto da prática psicanalítica lacaniana, é de fundamental importância para o analista //não// servir de substituto para a 'boa mãe' até então ausente, mas sim //triangular// – incorporar o 'terceiro' elemento ausente na díade primordial. Esse 'terceiro' pode ser entendido como a consciência //como tal//, entendida como um campo que transcende e abrange ambas as partes da díade. Alternativamente, nos termos de Lacan, o terceiro é a 'função paterna' da linguagem como tal como um Outro transindividual – não a ser confundido com um outro pessoal na díade. A 'função paterna' da linguagem como este Terceiro ou Outro é inserir uma cunha na díade. Somente assim um espaço é aberto para o indivíduo experimentar um senso de autonomia subjetiva independente da díade, e //dar// realidade ao seu Desejo através da linguagem e da palavra nomeadora – 'O Nome do Pai' – mesmo aceitando que ele sempre escapará da expressão plena na fala ou da realização na vida.