LRVV
No sâmkhya, são ensinados vários temas de meditação que datam da época dos Vedas.
Por exemplo, a noção de pares opostos zênite-nadir (o que está em cima e o que está embaixo) ou Purusha-prakriti, é representada graficamente por dois pontos ligados por uma linha ideal, reta, vertical, indo do zênite ao nadir. Mas, na experiência vivida, percebe-se através da meditação que é bem diferente. Esses dois pólos zênite-nadir não são, na verdade, opostos um ao outro, mas ligados por um movimento contínuo que parte do zênite e desenha um vasto semicírculo à direita para chegar ao nadir, na parte inferior da curva. Esse mesmo movimento, depois de penetrar no nadir, sobe até o zênite, formando, pela esquerda, o mesmo semicírculo que pela direita. Temos assim a imagem de um grande vaso redondo com, no fundo, o nadir.
A energia que desce do zênite é perfeitamente consciente de seu movimento. Em plena força, ela se condensa, quebra a resistência que encontra no caminho e penetra no ser interior que a vê chegar, escondido no nadir, enrolado três vezes e meia sobre si mesmo. É esse enrolamento que a energia deve romper.
Um guru sâmkhya explicará esse estado da seguinte maneira: a energia penetra na noite escura até se tornar ela própria inerte, sem reação. Nesse momento, ela se tornará uma com a matéria pesada.
No nadir da prakriti, as três voltas representam as três qualidades distintas e complementares (gunas) da própria prakriti. No movimento descendente, o branco (espírito), o vermelho (energia) e o preto (matéria) sucedem-se na ordem das cores no momento do pôr do sol. No movimento ascendente em direção ao zênite, as cores sucedem-se como no momento do amanhecer: o preto (matéria), o vermelho (energia) e o branco (espírito).
A última meia volta restante, além das três voltas dos gunas, foi, durante todo o processo de descida, o esconderijo da consciência ativa do Purusha. Ela representa o último reduto da individualidade-espírito, através do qual a ascensão pode ocorrer.
Nessa representação, o conquistador consciente do caminho a seguir penetra resolutamente na escuridão da matéria e em suas densidades pesadas, para alcançar o coração mesmo da prakriti. Para completar sua corrida, ele precisa quebrar a última meia volta da prakriti que o retém. Só então ele sairá herói da luta.
Ao longo de toda a descida consciente e voluntária nas profundezas do ser humano até o nadir, uma visão clara permite perceber qual será o caminho ascendente a partir do nadir, pois as etapas e os degraus da descida são análogos aos da ascensão.