Corbin (PM:99-101) – Angelologia

Os teósofos do Islã repetiram incansavelmente que os grandes filósofos gregos também receberam seus altos conhecimentos do “Nicho das luzes da profecia” (Meshkât al-anwâr). Certamente, uma religião profética não pode prescindir da angelologia: função do Anjo e missão dos profetas, esses dois artigos de fé no Islã são solidários um do outro. Mas o que se impõe aos espirituais metafísicos é a ideia de uma vocação comum ao filósofo e ao profeta. A angelologia responde simultaneamente às exigências ontológicas e hermenêuticas de uma filosofia profética. Assim, é essa necessidade que deve ser verificada nos diferentes esquemas propostos pelas cosmogonias angelológicas. Há a hierarquia da angelologia neoplatônica, e há a hierarquia da angelologia das teosofias oriundas da Bíblia e do Alcorão. De ambos os lados, essas hierarquias correspondem à hierarquia dos graus do ser. O Anjo é ao mesmo tempo o hierofante do ser, o mediador e o hermeneuta dos Verbos divinos. A dupla necessidade da angelologia para toda filosofia profética manifesta-se por excelência na ideia do Verus Propheta, tal como foi professada originalmente pela comunidade judaico-cristã de Jerusalém, onde a figura dominante foi a de um Christos Angelos, modelada sobre a do Arcanjo Miguel, ou mesmo identificada com ele.

Ora, essa profetologia do Verus Propheta é a mesma de que a profetologia islâmica herdou e que frutificou principalmente nas escolas esotéricas. Concluiremos, portanto, esta exposição mostrando a função teofânica do Anjo nos tratados esotéricos de dois eminentes representantes da filosofia e da espiritualidade islâmicas: Avicena (m. 1037) e Sohravardî (m. 1191).

Não é uma análise histórica que propomos aqui, nem nos restringimos a seguir a ordem cronológica. Tentamos essencialmente uma coordenação temática, tanto quanto os limites desta presente esquisse nos permitem.