SkaliTL
Este caminho, ó amigo, tu te perdeste nele porque não é teu. Seguiste as veredas e avenidas de outros viajantes porque eram movimentadas e julgaste conhecê-las!
Este caminho, ó amigo, dele te afastaste porque te causa medo. É um caminho no qual és o único viajante.
Temes que, ao trilhá-lo, teu nome seja apagado das memórias e que, tanto para ti quanto para os outros, não passes de um estranho.
Ele não tem marcas nem contornos, nem forma nem cor. No entanto, tem um sabor que só tu saberás reconhecer. Eis aí, ó amigo, a única conquista que, para ti, pode ter valor. Lembra-te de que as palmas das mãos que o homem de Deus volta para o céu são mais cortantes que o fio da espada. Arma-te, ó amigo, de coragem e não temas. A morte neste caminho vale mais que mil vidas!
«Ó sábio, estas palavras semearam desassossego em minha alma. Como um oceano carregado de tempestade, ela parece pronta a desencadear-se com fúria. Com que meios poderia eu lutar? Tuas palavras, longe de me acalmar, arrebatam para longe de mim a pouca paz de que eu podia desfrutar. Que fazer, ó amigo, agora que desperta este monstro adormecido?
Quem então habita no fundo do meu ser? Eu sou a calma em pessoa e ele, a tempestade. (Hafiz)
Para combater este dragão, precisas do cajado de Moisés, da funda de Davi ou do anel de Salomão, da sabedoria do Messias e do Profeta, voo do Espírito, do Amor e da compaixão.
Mas quem sou eu, pobre criatura, e como enfrentar meu destino? Nem profeta nem santo, estou só nesta noite. O sonho que me aprisiona é o desta vida. As flechas de minhas artimanhas esgotaram-se sem que uma única saída apareça no horizonte. Será então verdade que alguns homens penetraram este mistério?»
Aprende a aceitar tua noite e toma teu mal em paciência. É até o fim da noite que se vê despontar a aurora, e é do ventre obscuro da terra que germina o fruto. O dom da noite talvez te seja mais propício que o da luz.
Segredo de uma paciência infinita! As ondas dos desejos subjugados, das palavras fúteis, dos pensamentos inacabados incham, depois vêm morrer sobre os traços de teu silêncio. A alma despida de suas memórias enterra-se na noite profunda. Escuta, ó amigo, na hora fecunda, o desejo de ser de uma fonte de vida. Bebe o vinho fresco e puro que verte de sua ferida. Vê nascer sobre teus sentimentos entorpecidos um orvalho de sabores. Vê o fogo sob as cinzas que renasce após o esquecimento de uma dor íntima.