SkaliTL
Tu compreendeste, ó amigo, que o segredo deste caminho é a sinceridade. Mas é também um segredo difícil de captar! A sinceridade é um segredo entre Meus segredos, que deposito no coração daqueles que amo entre Meus servos. Não há anjo nem demônio que possa descobri-lo para registrá-lo ou alterá-lo. (Hadîth Qudsî)
A sinceridade, ó amigo, consiste em que o voo da tua intenção se dirija apenas ao teu Senhor. Mas é verdade que é preciso trabalhar por muito tempo antes de obter esta graça. Pois, no teu coração, há muitos outros olhares, tantos falsos deuses para os quais buscas te embelezar. Perdes uma energia e um tempo precioso, mesmo acreditando estar agindo corretamente.
O politeísmo oculto é como uma formiga negra sobre uma pedra negra numa noite negra. (Hadîth)
Esta falta de sinceridade, ó amigo, faz de ti uma sombra. Já não vives senão para a imagem de ti mesmo. Que espetáculo estranho é o de um homem conduzido por sua sombra! Levanta, pois, os olhos para o sol do Ser e compreende a fonte da verdade e da ilusão. Não permaneças prisioneiro dos olhares deste mundo.
Tal como o burro da mó, cujo ponto de chegada é também o de partida, não viajes de uma criatura para outra… (Hikam)
Este caminho, ó amigo, não te afasta das criaturas. É porque ele te liberta delas que podes melhor amá-las e servi-las. Certamente, elas são um véu supremo para aquele que viaja em direção à Realidade, mas também são uma porta de acesso a ela. Aquele que está no caminho da sinceridade ama as criaturas por elas mesmas. Aquele que vive para sua própria imagem ama as criaturas para si.
A sinceridade é o espírito e o sopro de cada um dos teus atos: Toda palavra vem para fora Trazendo a marca do coração que a profere. (Hikam)
Este caminho, ó amigo, é o caminho da unidade; é uma pérola depositada no seio dos conhecedores, o corpo da sua oração e seu espírito:
Puxa-me, Senhor, do lamaçal da confusão e mergulha-me no oceano da Unidade, até que eu não veja, não ouça, não encontre, não sinta, senão por Ela. (Ibn Mashîsh)
Quando não é apenas a tua boca, ó amigo, mas também o teu coração que articula esta verdade, ele também será unificado. A tua alma já não será dividida entre mil fragmentos de alma que travam batalha. Tuas obras e tuas palavras não entrarão em conflito. Teus atos não apagarão o que tu mesmo construíste.
Tua língua não será criadora de artifícios. Tua fronte não portará a vergonha que tua mão recusa.
Já não serás, ó amigo, prisioneiro de um teatro de sombras. A vida não é um espetáculo, é a maior das aventuras!
Não vês aquele que estava morto, a quem Nós ressuscitamos e a quem demos uma luz com a qual ele avança entre os homens…? (Cor. VI/122)
Aquele cujo coração é luz comunica a luz.
As obras são formas mortas; só o segredo da sinceridade lhes insufla vida. (Hikam)
Se choro, ó amigo, É para lavar o meu olhar De tudo o que não seja Ele. As lágrimas podem faltar, Mas sei, no fundo dos meus olhos, Que Ele escolheu Sua morada.