Milloué1905 A concepção de um Ser Supremo, eterno ou pelo menos anterior ao mundo, criador do universo — Prajapati, Purusha ou Brahma.
O ponto de partida dessa concepção parece ser o hino 90 do décimo Mandala do Rigveda, onde os deuses sacrificam Purusha (“O Masculino do Sacrificio”) para formar o universo com os fragmentos de seu corpo. Porém, nesse hino, os deuses coexistem com Purusha, em vez de serem suas criações ou emanações, como nos mitos posteriores encontrados nos Brahmanas mais antigos (Aitareya, Taittiriya e Shatapatha). Esses textos apresentam diferenças significativas, às vezes até versões contraditórias dentro de uma mesma obra, tornando difícil definir a natureza exata desse Ser Supremo:
Fumaça → Fogo → Luz → Chama → Raios → Água → Céu → Terra.
Asuras (do abdômen)
Mas logo depois, o mesmo texto afirma:
De sua carne surgiu o sábio Aruna-Ketu.
As seis regiões + deuses (Surya, Agni, Vayu, Indra, Pushan).
Resumo:
Apresenta uma visão mais moderna e metódica da criação.
“Prajapati, no princípio, era este universo, sozinho.”
Outra passagem:
Deuses (de seus ares vitais superiores).
O mito do Deus andrógino:
Criação pela palavra:
Terra (pronunciando “bhuh”).
Brâmanes (“bhuh”).
Outra versão (Vajasaneyi Samhita):
Essa concepção, inicialmente vaga, foi se tornando cada vez mais espiritualista sob influência de especulações filosóficas, culminando na ideia da Alma Universal (Brahma) — essência de todas as coisas, presente em tudo e na qual tudo deve se absorver.
Céu (parte superior).
Conclusão:
Texto Processo de Criação Ser Supremo
Rigveda (Hino 90) Sacrifício de Purusha pelos deuses Purusha (coexistente)
Taittiriya Brahmana Combustão espontânea do Inexistente Prajapati = Universo
Shatapatha Brahmana Divisão andrógina + criação pelo sopro/palavra Prajapati/Brahma
Manusmriti Ovo cósmico + divisão de Brahma Brahma (Alma Universal)
Essa evolução mostra como o pensamento védico passou de mitos fragmentados para uma visão unificada e metafísica da origem do universo.
Seja chamado de Brahma, Paramâtman, Vichnou ou Çiva, o Deus supremo não poderia, sem perder a perfeição que define sua supremacia, realizar qualquer ato que implicasse ação, movimento ou talvez até volição. Como uma entidade meditativa, inerte, pura razão, ele age na criação, proteção e destruição apenas por meio de substitutos—sejam emanações ou encarnações de sua essência divina (como é o caso de Vichnou), ou manifestações de sua energia em forma feminina (as Çaktîs de Çiva).
De acordo com esse princípio, quando chega o momento da criação, Vichnou desperta de seu longo sono—durante o qual, deitado sobre as espirais da serpente Çécha, é embalado pelos fluxos do oceano caótico—e faz surgir de si mesmo Brahmâ, o demiurgo, que modelará os mundos e criará ou gerará os seres conforme o plano preestabelecido pela vontade divina. Mais tarde, quando grandes cataclismos ou ações nefastas dos demônios ameaçarem a obra da criação, ele intervirá por meio de encarnações parciais de sua essência, manifestando-se visivelmente no mundo sob diversas formas adequadas aos seus desígnios e às perturbações que necessitem ser contidas.