Desde o início, tenho enfatizado implícita e explicitamente a atitude 'existencialista' de Zhuangzi. Penso que já deixei suficientemente claro que seu verdadeiro significado só se torna compreensível quando relacionado ao segundo estágio (de cima) do 'sentar-se no esquecimento'. É uma posição filosófica baseada na visão do Caos. Nesse aspecto, opõe-se à posição do 'essencialismo', que se baseia numa visão da Realidade peculiar e típica do estágio epistemológico-ontológico em que os 'dez mil seres' aparecem, cada um com um 'limite' claramente demarcado. Em termos do processo de 'sentar-se no esquecimento' — o processo de Retorno do êxtase completo de volta ao mundo 'normal' do senso comum — a posição 'essencialista' pertence ao terceiro estágio explicado acima.
Assim, no quadro dessa experiência, o 'existencialismo' representa uma visão da Realidade que está um estágio acima do 'essencialismo'. É importante notar que este último é considerado o terceiro estágio no processo de Retorno da contemplação extática apenas enquanto considerado dentro desse quadro específico. Na realidade, porém, o contemplativo, quando desce a esse estágio e se torna consciente das coisas com 'limites' claros, já está em pé de igualdade com qualquer homem comum que nada sabe sobre a experiência do êxtase. Sua visão do Ser nesse nível específico não tem nada de incomum do ponto de vista do senso comum. Pelo contrário, é uma visão do Ser comum a todos os homens dotados de uma mente 'sã' e 'normal'. O 'essencialismo', em outras palavras, é a ontologia típica do senso comum.
Essa afirmação, no entanto, não deve ser entendida como implicando que, para um Zhuangzi ou um Laozi, o 'essencialismo' seja uma visão do Ser errada e equivocada, que distorce e desfigura a estrutura real das coisas. Pois o 'essencialismo' de fato representa e corresponde a um estágio definido no processo evolutivo do próprio Absoluto. Além disso, em seu lado subjetivo, o 'essencialismo' constitui, como acabamos de ver, o terceiro estágio do 'sentar-se no esquecimento' no processo de Retorno da contemplação. E, como tal, não há nada de errado nele.
O problema sério surge apenas quando o senso comum se recusa a ver qualquer diferença em termos de 'níveis' ontológicos entre 'existencialismo' e 'essencialismo' e começa a afirmar que este último é a visão correta do Ser. É somente então que um Zhuangzi se levanta em revolta aberta contra o 'essencialismo'. Como, no entanto, é da própria natureza do senso comum ver as coisas de maneira 'essencialista', Zhuangzi e Laozi constantemente se veem forçados a manifestar uma atitude de revolta contra tal visão. Sua filosofia, nesse aspecto, pode ser adequadamente caracterizada como uma revolta contra a 'tirania' da Razão.
Zhuangzi vê uma exemplificação típica da posição 'essencialista' na filosofia moral de Confúcio. A filosofia confucionista é, na visão de Zhuangzi, nada mais do que uma elaboração ética do 'essencialismo' ontológico. As chamadas virtudes cardeais de Confúcio, como 'humanidade', 'justiça', etc., não passam de produtos da atividade normal da Mente, que naturalmente tende a ver em toda parte coisas rigidamente determinadas por suas próprias 'essências'. A Realidade em sua absoluta não tem tais 'limites'. Mas um Confúcio estabelece distinções onde não existem e fabrica categorias éticas rígidas e inflexíveis com as quais pretende regular o comportamento humano. Pare! Pare de abordar os homens com (teu ensino de) virtudes! Perigoso, perigoso, de fato, é (o que estás fazendo), demarcando o chão e correndo dentro dos limites! O 'essencialismo' ontológico é perigoso porque, assim que adotamos tal atitude, estamos condenados a perder nossa flexibilidade mental natural e, consequentemente, perder de vista a 'indiferenciação' absoluta, que é a verdadeira fonte e base de todos os seres existentes. O 'essencialismo' não permanecerá na esfera da ontologia; ele naturalmente se transforma em uma categorização de valores que, uma vez estabelecida, começa a dominar todo o nosso sistema comportamental.
Zhuangzi, na passagem a seguir, oferece com sarcasmo agudo um quadro simbólico daqueles que se envolvem em discussões animadas e vãs sobre os 'valores' das coisas, considerando-os como algo absoluto, algo inalteravelmente determinado. A fonte secou, e os peixes estão todos no chão. (Nas agonias da morte) umidificam-se mutuamente com o hálito úmido e tentam umedecer-se com espuma e baba. Seria muito melhor para eles se pudessem esquecer-se uns dos outros num rio ou mar amplo. Da mesma forma, as pessoas elogiam um 'grande homem' e condenam um 'homem mau'. Mas seria muito melhor se pudessem esquecer ambos ('bom' e 'mau') juntos e se 'transmutassem' livremente com o próprio Caminho.