Nasafi – Do Diálogo

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Saiba que o diálogo tem efeitos profundos e grandes propriedades. O peregrino que não alcança o objetivo é porque não conseguiu acessar o comércio de um Sábio. Desse comércio depende o resultado. O resto — essas ascéticas e múltiplos esforços, esses rituais e leis incontáveis — é apenas para tornar o peregrino digno dessa conversa. Uma vez que o peregrino se torna digno do diálogo com o Sábio, a empreitada do peregrino está concluída.

Ó Dervixe! Se o peregrino, um dia, ou melhor, um único instante, alcançar a companhia de um Sábio e se mostrar digno, esse instante vale mais do que cem, do que mil anos de ascetismo e esforço.

Um único dia, para Deus, é na verdade como mil anos segundo a vossa maneira de contar.

Alcorão XXII/47

Ó dervixe! Muitos são aqueles que encontram o Sábio e nada ganham com a sua companhia! Uma de duas coisas: ou não têm aptidão, ou não têm o mesmo objetivo. Aqueles que não têm aptidão não estão entre as pessoas do diálogo. Aqueles que têm aptidão, mas cujo objetivo é diferente, não falam a mesma língua.

Tendo aprendido o significado do diálogo, saiba agora que, uma vez admitido na assembleia dos dervixes, você deve falar pouco. À pergunta que não lhe for feita, abstenha-se de responder. Se te fizerem uma pergunta cuja resposta desconheces, não tenhas vergonha de admitir a tua ignorância; e se a souberes, responde de forma breve e pertinente, evitando a prolixidade, bem como os meandros da controvérsia e da erística. Não sejas arrogante; não pretendas o lugar de honra, o que digo! Mostra-te generoso. E quando a intimidade é preservada — isto é, na ausência de qualquer estranho — não faças cerimônias, não dispenses cortesias exageradas, pois, em certos lugares, as maneiras são inadequadas. A simplicidade é liberdade.

Ó dervixe! Não que você deva se mostrar rude: a indelicadeza, em qualquer lugar e em qualquer momento, é repreensível. Queremos apenas dizer que, na intimidade, você deve se comportar sem maneiras, a fim de não obrigar os dervixes a fazê-las e, assim, constrangê-los e privá-los do prazer da conversa. Guarde-se da idolatria. Não faças de uma coisa o teu ídolo. Concede-te aos outros.

Ó dervixe! O que é recomendável fazer ou não fazer não é de forma alguma obrigatório. Conformar-se aos companheiros é um ato de generosidade e magnanimidade; diferenciar-se deles é um ato de mesquinhez. Tudo o que você fizer por hábito se tornará seu ídolo e você, no meio dos companheiros, será idólatra.

Ó dervixe! Não faça um hábito daquilo que não é necessário e não traz tranquilidade aos companheiros, pois isso se tornará um ídolo. Renunciar aos hábitos, quebrar os ídolos, é próprio do homem verdadeiro.