Dubois (DDAG) – Nenhuma prática pode fazer realizar o Si-Senhor
DDAG
Mas isso não prova simplesmente a impotência da razão ou, como alguns dizem hoje, do intelecto, do “mental”? Não, porque para Abhinavagupta, não há, nesse aspecto, diferença real entre um raciocínio “intelectual” e uma prática de yoga ou meditação. De fato, toda prática nada mais é do que a prática de um conhecimento. Toda prática é apenas uma linguagem, uma teoria em ato, pois toda ação é apenas a exteriorização de um conhecimento interior. Se, portanto, a teoria é incapaz de trazer o Senhor à luz – já que ele é a própria Luz – nenhum de seus prolongamentos práticos será mais capaz. Em todos os casos, querer “realizar” o Si equivale a tentar iluminar o sol com uma vela: isso é ridículo e vão. É por isso que não se encontrará nenhuma demonstração da existência de Deus na obra de Abhinavagupta. O grande mestre da filosofia do Reconhecimento que inspira Abhinavagupta, Utpaladeva, compôs uma demonstração clássica, dualista, da existência de Deus. Mas em seus Versos para o reconhecimento de si como sendo o Senhor, não se encontra nenhum vestígio disso. Ali, de fato, o Senhor é o Si, a essência de todas as coisas, assim como de todos os seres. O que se deve provar não é que as coisas têm um si, uma natureza universal, mas sim que esse si é o nosso si, e sobretudo que ele é dotado dos mesmos atributos que os do Senhor, a saber, principalmente a onisciência e a onipotência. No entanto, essas são ainda maneiras de demonstrar, indiretamente, o Si soberano. Nas passagens que explicam este ponto, há, portanto, uma espécie de tensão muito viva entre a evidência do Si e a impotência em mostrá-lo que, uma vez posta em luz, se revela ser um meio hábil de mostrá-lo. Nesse espelho onde se vê a gnose do Senhor, que é a imensa Luz dos tantras, Abhinavagupta argumenta de fato assim: “Suponhamos que exista um meio para alcançar o conhecimento (perfeito do Si). Esta (via) seria o conhecimento (em si). (Pois) para que iluminar o que é evidente por si mesmo? E como outra coisa poderia iluminá-lo?” (TĀ II, 9.) O conhecimento é, de fato, comparado ao ato de iluminar um objeto. Assim, uma lâmpada faz ver o que estava envolto em trevas. Mas como e por que iluminar uma lâmpada? Iluminar a luz tem sentido? Se respondermos que o meio não é a própria luz, Abhinavagupta responde que, nesse caso, esse meio não poderá iluminar nada. O Si é “evidente”, é a Evidência na qual todas as coisas se manifestam, claras ou obscuras, é o Conhecimento no qual a própria ignorância emerge, luz sem a qual seria impossível conceber a própria possibilidade de uma ignorância.
