abhinavagupta:dubois-ddag-o-si-pode-ser-sugerido

Dubois (DDAG) – O Si pode ser sugerido

DDAG

Vemos isso novamente quando Abhinavagupta tenta encontrar a razão pela qual Utpaladeva diz que a Potência de conhecer — ou seja, a consciência — “é pressentida” no outro a partir de seus movimentos, em vez de inferida. De fato, à primeira vista, o raciocínio proposto se assemelha a uma inferência típica, com sua ida e volta do percebido ao rememorado, depois ao percebido, e com seu elemento de simetria. Eu infiro que alguém é dotado de consciência porque, como eu, ele se move de certa forma, da mesma maneira que não há fumaça sem fogo. Abhinavagupta justifica assim essa escolha de vocabulário de Utpaladeva, justificação que demonstra sua preocupação real em não reificar o Si como consciência:

“Por 'pressentido', (o autor) mostra que a consciência não pode ser objetificada/feita objeto de conhecimento válido. Caso contrário, de fato, ele teria dito 'inferido'” (IPV I, p. 78).

Deve-se notar também que o capítulo introdutório dos Versos para o Reconhecimento termina com uma invectiva contra os lógicos (tārkika), a serem distinguidos dos Lógicos (naiyākika), elogiados anteriormente, sem dúvida porque estes últimos são teístas e adeptos, se não das Transmissões (āgama) shaivas, pelo menos das Crônicas (purāna), de orientação geralmente mais brâmane, à semelhança de Jayanta Bhatta, autor da peça satírica evocada em nosso esboço da vida do mestre de Srinagar. Mas Abhinavagupta enfatiza sobretudo que o primeiro capítulo contém o essencial do Reconhecimento, sua ideia fundamental. De fato, ele expõe em poucas páginas a tese essencial, a do Aparecer ininterrupto, que constitui tanto o fundamento quanto o ápice — a chave de abóbada — do sistema do Reconhecimento. Sem ela, nenhuma onisciência, nem onipotência, nem soberania seriam possíveis.

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