Então disse a mim mesmo…~ Há estas palavras do Sábio…~ «Seu nascimento é o resultado do desejo de seus pais…~» Por uns momentos estas palavras cobraram seu verdadeiro significado…~ Disse a mim mesmo…~ «Efetivamente este nascimento…~ este ter começado a sentir…~ ele é produto do desejo de seus pais…~ Mas este nascimento não sou eu…~ Ele é o instrumento de sentir…~ é também o que está sendo sentido…~ mas nem o instrumento de sentir nem o sentido…~ e nem sequer o sentidor sou eu…~ É misteriosíssimo…~ digo a mim mesmo…~ é um enigma completo…~ Eu não vi sair nunca de mim nenhum desejo desejado…~ eles saem espontaneamente…~ eles se manifestam espontaneamente…~ de nenhum lugar…~ Primeiro ninguém os nota…~ ninguém os sente…~ e de repente eles estão aqui…~ repentinamente eles estão sendo sentidos…~ Mas eles não saíram de mim…~ eu não os quis…~ Uma vez aqui…~ pode parecer que sou eu que desejo o que eles desejam…~ mas eu vou mais atrás…~ eu vou antes que eles se apresentem…~ Sou eu capaz então de me dotar de desejos?…~ sou eu incomodado então pela ansiedade de crer que sou eu que desejo o que os desejos desejam?…~» Então digo a mim mesmo…~«Meu nascimento…~ isto que é o resultado do desejo de meus pais…~ o que é?…~ não é isso como uma espécie de mecanismo multiplicador que em diferentes prazos vai liberando diferentes desejos, da mesma forma que o saborear de um grão de açúcar vai liberando o sabor doce?…~ Há também esta pergunta chave…~ O desejo de meus pais…~ cujo resultado é este meu nascimento…~ não foi ele também um desejo completamente espontâneo liberado por este mesmo mecanismo multiplicador que eu chamo nascimento?…~ Eles…~ meus pais…~ tampouco viram sair nunca de si mesmos um só desejo…~ um só ato…~ uma só decisão…~ Na realidade…~ os pais deste nascimento…~ é o surgimento espontâneo de um desejo em seu devido momento…~ Mas não há absolutamente ninguém atrás desse desejo…~ ninguém desejando…~ ninguém decidindo…~ Este desejo espontâneo é certamente os pais deste nascimento e este nascimento é certamente seu filho…~ Mas eu não sou filho de um desejo…~ nem o desejo de um instante é meus pais…~ Que enigma é este?…~ que mistério é este?…~ Isso não pode ser compreendido enquanto há identificação a este corpo-Consciência…~ Meus pais…~ os pais deste nascimento…~ são os pais deste nascimento…~ mas eles não são meus pais…~ Não há absolutamente nenhum contato…~ este nascimento não entrou nunca em contato comigo…~ Mas é que este nascimento nem sequer é produto do desejo deles…~ Eu não considero meus pais diferentes de mim mesmo…~ eu não vi jamais que eu possa dizer de verdade que haja um só desejo meu…~ um só desejo feito de mim…~ saído de mim…~ querido por mim…~ buscada sua satisfação por mim…~ levado ao ato por mim…~ reclamado seu resultado por mim…~ Isso não ocorreu jamais a mim…~ e há a absoluta convicção de que isso não ocorreu jamais a ninguém…~ De modo que…~ quais são os verdadeiros pais deste nascimento meu que não é meu nascimento?…~ Eles são tão absolutamente inocentes de sua paternidade como o sou eu mesmo de minha filiação…~ É sempre esta Consciência…~ Ela é os pais e ela é o filho…~ Ela é o desejo dos pais…~ e ela é o resultado desse desejo…~ Na realidade não há pais segundo são compreendidos como duas formas corporais me precedendo no tempo e cujo desejo deu como resultado esta outra forma corporal com consciência que não sou eu…~ Os pais são o desejo espontâneo desta Consciência…~ não há absolutamente ninguém atrás dele…~ e o filho é este nascimento semelhante a um temporizador de desejos que vai liberando-os seguindo seu prazo estabelecido…~» Então digo a mim mesmo…~ «Tem razão o Sábio…~ mas eu colocaria suas palavras da seguinte maneira…~ “O nascimento é o resultado do desejo de seus pais”…~ algo assim como dizer…~ “O nascimento de uma criança que eu jamais vi é o resultado do desejo de seus pais”…~ Certamente o nascimento dessa criança é o produto do desejo de seus pais…~ Seus pais são seus pais…~ seu filho é seu filho…~ Mas eu nunca vi essa criança…~ ele jamais entrou em contato comigo…~»