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Ativarnashrami (LVRE:Silêncio-1) – abandono

Feche os olhos…

Os espirituais e outros distribuidores dos bens deste mundo e do além… amam muito a palavra «abandonar»… «Abandone isso e terá aquilo… Abandone o ego e terá a realização…» dizem eles… e parece inteiramente como se soubessem do que estão falando… do que se trata… A cobiça… não há melhor alimento para a cobiça que o mel imaginário da promessa… «Isso de realizar-se soa bem… diz-se a si mesmo… deve ser algo fabuloso… sobretudo pelo quão caro parece custar…» Por outro lado… isso de abandonar algo… por mínimo que seja… sente-se uma relutância… uma repugnância enorme… a abandonar nada… e muito menos o ego… a amadíssima imagem de si mesmo… Além disso… se abandonar o ego… o «eu sou o que faz…» «eu sou o que compreende…» «eu sou o que desfruta…» «eu sou o que abandona…» com o que então vai desfrutar a promessa «realização» quando… uma vez abandonado o ego… ela se cumprir…?

Bem… A questão não está tanto no abandono como em ver o que realmente se possui… Faz-se muito bem em desconfiar de todos os olhares que apontam para a bolsa… e muito mais quando a bolsa é desta vez a própria identidade…

Na realidade… muitos problemas são insolúveis porque são inexistentes… Desde o momento em que alguém pede que abandone o ego… o ego… que talvez não era… virá inelutavelmente à existência… Curioso presente este primeiro dom com que agracia a via espiritual…!

Os egos são legião… mas este ego espiritual… com cuja presença não se contava até que se ouviu que tem que abandoná-lo… este ego espiritual é particularmente pernicioso…

Feche os olhos… Preste atenção ao que vai escutar… Escute primeiro esse silêncio… é esse silêncio…? Esse silêncio… está escutando…? Emite algum som que ele possa detectar…? Pode esse silêncio localizar…?

Preste atenção ao que vai escutar… «Eu bebi até saciar-me a água que uma vez bebida já nunca mais haverá sede… meu estado é indescritível… além de todo alcance…»

Estas palavras… aparentemente vindas de fora… seu som invadiu totalmente esse silêncio que estava sendo escutado… Estas palavras tomaram forma nesse silêncio… elas são uma indicação desse silêncio que elas preencheram… Qual pode ser esse estado indescritível que elas comunicam que tenho e do qual talvez pense que carece…?

Estas palavras… elas têm um sabor… seu som mesmo é um sabor… Estas palavras… seu saborear delas… está provocando uma reação…: Ou bem se reconhece nelas… ou bem não se reconhece nelas… Se não se reconhece nelas… sua audição está provocando uma sensação de estar carecendo de algo bom… Observe também a presença de um saborear reativo… um saborear que vem de dentro para fora… muito mais sutil… muito mais despercebido… O saborear imaginado do que estas palavras podem descrever em mim que digo saboreá-lo… o saborear imaginado da carência do que estas palavras descrevem… está provocando o saborear reativo do desejo de possuir o que estas palavras descrevem… Este saborear reativo do desejo de saborear… também… o que digo que saboreio… constitui a substância de que está feito o ego espiritual do buscador…

Este desejo de saborear o que disse que saboreio… antes de escutar minhas palavras… Tinha a sensação de carecer de algo…? antes de escutar minhas palavras… saboreava o saborear «que coisa extraordinária deve ser isso que estas palavras descrevem… manifestamente não o tenho… quero tê-lo… o que tenho que fazer para tê-lo…»?

Observe bem que o problema do ego não está em como abandoná-lo… mas em compreender como surgiu…

Volte a prestar atenção ao silêncio… escute o silêncio que se viu invadido pela mensagem de minhas palavras e onde foi saboreada a sensação de carecer do que estas palavras descrevem… escute o silêncio onde simultaneamente foi saboreado o desejo reativo de chegar a saborear o que estas palavras descrevem… Esse silêncio… antes de escutar nada que não seja ele… tem alguma possibilidade de saber que carece de algo…? Se não sabe que carece de algo… carece em realidade disso…?

Observe bem esse silêncio… há algum ego nele…? Esse silêncio… há algo nele que esteja cobiçando algo…? Esse silêncio… ele escutou toda a sabedoria expressa alguma vez… esse silêncio… nele foi saboreado o sabor da carência imaginada do que toda sabedoria descreveu… esse silêncio… nele foi saboreado o sabor reativo… amargo… de todos os egos jamais havidos cobiçando saborear o que outros supostamente saborearam… Esse silêncio… o que resta quando todas as palavras e o que elas descrevem cessaram…? Esse silêncio… pode ele ser feito cessar…? não estava ele aqui antes que as palavras fossem escutadas…? Esse silêncio… dispõe ele de algum meio de possuir o que não é mais que uma formação ilusória que está quebrando aparentemente sua absoluta homogeneidade…? Esse silêncio… possui ele algum ego… seja um ego mundano ou um ego espiritual…? O que nunca se possuiu… pode isso ser abandonado…?

Possui esse silêncio…? Infinitamente mais sutil que esse silêncio… é que o está escutando…

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