Taylor, 2001

Mesmo assim, Woodroffe dedicou grande parte da palestra sobre “Tantra Sāstra e Veda” a assegurar seus ouvintes e leitores que, doutrinariamente, os Tantras estavam em conformidade com o “Veda”. Ele citou inúmeras referências dos Tantras para mostrar que esses textos afirmavam estar baseados no “Veda” , e que se consideravam a expressão da verdade védica adequada para a kali yuga .

Embora aparentemente relacionada à história, a questão de se os Tantras pertenciam à tradição dos Vedas dizia respeito na verdade a questões de autoridade, autenticidade e moralidade. Através do processo de “exoterização” descrito no último capítulo, divindades e escrituras que antes eram classificadas como “tântricas” tornaram-se “vaidikas”, no sentido de que seus seguidores conformavam-se ao varnāśrama dharma e evitavam práticas consideradas impuras ou imorais. Assim como os termos “Tantra” e “tântrico” são bastante ambíguos em seu escopo, “Veda” e “védico” não se referem necessariamente estritamente ao conteúdo dos textos. Para os ouvintes e leitores de Woodroffe na Índia, a palavra vaidik era sinônimo de ortodoxia na doutrina e prática e de respeitabilidade social. Insistir que os Tantras se opunham aos Vedas era declará-los heterodoxos. Uma carta de um leitor, que será discutida no próximo capítulo, mostra como um membro do público protestou contra a implicação de que os vinte e oito principais Agamas Saivas eram não-védicos.

Woodroffe deixa claro em sua palestra que por “Védico” se entendia antes de tudo conformidade com o advaita vedānta, com o monismo upanishádico. (Ver SS:85-88 onde ele declara (p. 87) “Advaitavedānta é todo o dia e vida do Sākta Sādhaka”). Ele interpreta “Veda” no sentido abstrato de conhecimento ou “em última instância, Experiência Espiritual” . A conformidade com o advaita vedānta parece em si mesma fornecer garantia a seus leitores de que a prática tântrica não é imoral, como quando ele defende o pahcatattva declarando que é uma aplicação prática do advaitavāda .

Outra linha de “defesa” contra as “acusações” de heterodoxia ou imoralidade (as duas sendo equiparadas) era traçar paralelos entre rituais tântricos e védicos, apontando que sacrifício de animais, consumo de álcool e até mesmo maithuna podem ser encontrados nos Vedas e Brahmanas. .

Questões sobre as origens históricas reais do Tantra Sāstra e do Saktismo são deixadas de lado nesta palestra . O próprio Woodroffe parece ter aceito pessoalmente a teoria favorecida pela maioria dos orientalistas ocidentais de que estes eram “não-arianos”; mas ele talvez estivesse ciente de que isso não seria bem-vindo por alguns de seus leitores ou professores indianos, especialmente pelos “iniciados” tântricos. Veremos abaixo como ele abordou essa questão, em outra palestra do mesmo período.