Moisés encontra Khidr
Bakhtiar, 2019
Em Nome de Deus, O Misericordioso, O Compassivo
A história corânica de Moisés e seu encontro com “alguém mais sábio do que ele” na confluência dos dois mares é a única narrativa sobre Moisés no Alcorão que não tem raízes nos textos bíblicos.
A maioria dos leitores provavelmente está familiarizada com quem foi o Profeta Moisés — o Profeta que libertou os Filhos de Jacó do Faraó egípcio. Podem estar menos familiarizados com “alguém mais sábio do que ele”, que possui uma sabedoria sapiencial que significa “experimentar”, “realizar”, “ser transformado”, tendo adquirido conhecimento através da purificação da consciência (kashf) e substituindo a razão pela intuição. Como nos diz o Alcorão: “Por certo, em suas narrativas há lição para os dotados de discernimento.” (Alcorão 12:111) Os Hadiths indicam que Moisés encontrou-se com “alguém mais sábio do que ele”, a quem designaram como Khidr. Khidr é um guia espiritual que aparece para as pessoas em suas visões oníricas ou através da clarividência. Clarividência refere-se ao discernimento (furqan). É a capacidade de perceber objetos não presentes aos sentidos; o poder de perceber questões além do alcance da percepção ordinária. Em outras palavras, é uma experiência “além da percepção”.
O mundo das visões oníricas é conhecido como proveniente de um barzakh — barreira ou mundo intermediário entre o mundo material, físico e o mundo espiritual. Também é chamado de alam al-mithal ou mundo das semelhanças, lar de nossa imaginação criativa. Como um reino de existência que media entre diferentes níveis de realidade, compreendê-lo permite que visões oníricas ou experiências visionárias — que desempenharam papel importante em muitos campos da vida muçulmana, desde a historiografia até a medicina — existam em uma esfera especial de existência própria. São, como neste caso, outro método de ensinar o caminho espiritual.
O único fato que temos sobre esta história é que ela faz parte da revelação recebida pelo Profeta Muhammad, que a paz e a misericórdia de Deus estejam sobre ele, no Alcorão. Embora argumentemos que, se a intenção fosse uma história envolvendo Moisés, ela teria que ter ocorrido antes de ele se tornar Profeta/Mensageiro, também argumentamos que, para Moisés receber o 'ilm laduni (conhecimento divino direto), isso teria que ser através de algo diferente de um intermediário humano. Se este ser “mais sábio que” Moisés fosse Khidr, como indicam os Hadiths, ele mais frequentemente aparece em visões oníricas.
O Alcorão se refere a Khidr como “um servo dentre Meus servos”. Khidr possui o que é conhecido como 'ilm laduni, literalmente “conhecimento de Nossa parte”, ou conhecimento direto que emana da Presença de Deus sem intermediário humano. Portanto, o encontro entre Moisés e Khidr teria que ocorrer através de uma visão onírica, e não que Khidr tivesse assumido forma humana. Se Khidr tivesse assumido forma humana, isso contradiria a narrativa corânica. Ele poderia dar conhecimento a Moisés, mas não conhecimento direto que emana da Presença de Deus sem intermediário humano ('ilm laduni).
