BaretA

Quando o idoso perde o equilíbrio, perde a memória, ele fica menos consciente, não é?

Consciência relativa, porque ele não estava consciente. Ele imaginava ter sucesso e fracassar nas coisas — o que é inconsciência. Ele imaginava ter um nome, decidir o que fazer… Ele imaginava toda a sua vida. O fato de ele ter se esquecido dessa fantasia não significa que há um ponto negativo. Ele está redescobrindo algo essencial, sem memória, sem apropriação.

É bom ver como a visão de um homem velho ficando senil nos impressiona. Por que é tão difícil? O que é que me assusta? Estou sendo desafiado. Percebo que vou ser assim e que não vou mais poder fingir — fingir meus sucessos, meus fracassos. Terei de abrir mão de minha querida vida, de minha querida identificação comigo mesmo. É isso que eu acho tão doloroso.

Vamos deixar o velho sozinho com nossas projeções e nossos medos. O velho está bem: nós é que estamos com medo. Um salmão no final de sua vida não é menos do que em seu esplendor. A degeneração, em um certo nível, faz parte de nosso processo biológico. Há tanta beleza em alguém que morre quanto em alguém que nasce.