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A característica marcante do cosmos é seu status ambíguo, o fato de ser Ele/não Ele. Em outras palavras, o cosmos é imaginação, e imaginação é aquilo que ocupa uma posição intermediária entre afirmação e negação. Sobre isso, diz-se “tanto isto quanto aquilo” ou “nem isto nem aquilo”. O universo não é nem Ser nem nada, ou é tanto Ser quanto nada. Ele é “existência” conforme esse termo foi definido. Essa descrição do cosmos é basicamente estática e atemporal. O que acontece quando consideramos o tempo? Adiciona-se outra dimensão de ambiguidade. Em outras palavras, se tomarmos um ente existente em qualquer momento do tempo sem referência ao passado ou ao futuro e tentarmos definir sua situação, chegaremos a uma definição nebulosa, uma tentativa não muito bem-sucedida de determinar sua posição entre Ser e nada e em relação aos nomes divinos. Mas se olharmos para esse mesmo ente no momento seguinte do tempo, a ambiguidade aumentou, pois a situação mudou, os relacionamentos se alteraram, e precisamos de uma nova definição para levar em conta as mudanças. Assim como não há duas coisas no cosmos consideradas de forma sincrônica que sejam exatamente iguais—já que cada uma se encaixa em sua própria posição única dentro das hierarquias cósmicas definidas por luminosidade, conhecimento, poder e outros atributos divinos—também não há um único ente considerado temporalmente que seja exatamente o mesmo em dois momentos sucessivos. Esta é a famosa doutrina de Ibn Arabi sobre a “renovação da criação a cada instante” (tajdīd al-khalq fi’l-ānāt), um termo derivado de versos corânicos como: “Não, na verdade, eles estão em confusão quanto a uma nova criação (khalq jadid)” (50:15).