Corbin (CETC:33-37) – Cosmologia masdeísta
É uma característica marcante da visão zoroastriana que o Senhor Sabedoria apareça sempre rodeado por seis Poderes de Luz, com os quais ele mesmo (como primeiro ou como sétimo) forma a Heptade divina suprema. Sob o pretexto de que se trataria de um pensamento dito “primitivo”, às vezes se tentou reduzir esses Poderes a “aspectos” da divindade suprema, sem levar em conta que tal modalismo suporia, ao contrário, uma especulação teológica muito desenvolvida, e que, em todo caso, o impulso da piedade nada tem a ver com essas abstrações e distinções sutis, mas se dirige a Pessoas celestes cuja beleza é aqui experimentada como fascinante e cujo poder é reconhecido como eficaz. São esses Sete Poderes que são designados como os Amahraspands (avéstico Amerta Spenta), nome que geralmente se traduz por “os Santos Imortais”, sua santidade sendo entendida não como um atributo canônico, mas como uma Energia transitiva, ativa e ativante, que comunica o ser, o confirma e o faz transbordar em todos os seres. São esses Sete Poderes que também são comumente designados como os Arcanjos zoroastrianos.
O Yasht XIX do Avesta (ou seja, um desses hinos litúrgicos de estrutura característica, com antífonas e responso) descreve em termos prestigiosos seu esplendor e o mistério de suas relações. O hino celebra esses Arcanjos “que todos os Sete têm o mesmo pensamento, todos os Sete a mesma palavra, todos os Sete a mesma ação… que veem a alma um do outro ocupada em meditar pensamentos de retidão, em meditar palavras de retidão, em meditar ações de retidão, em meditar a Morada-dos-Hinos, e que têm caminhos de luz para comparecer às liturgias (celebradas em sua honra)… que criaram e governam as criaturas de Ahura Mazda, que as formaram e as dirigem, que são seus protetores e libertadores”.
Há, portanto, entre os Sete Arcanjos uma espécie de unio mystica, pela qual a Heptade divina se diferencia tanto das representações comuns do monoteísmo quanto do politeísmo; seria mais preciso falar de um kathénoteísmo, no sentido de que cada uma das Figuras da Heptade divina pode ser meditada por sua vez como realizando a totalidade das relações comuns às outras. Pode-se observar nos textos uma oscilação que ora destaca a primazia do Senhor Sabedoria entre os Sete, ora acentua a unio mystica com os outros seis Poderes de Luz. É assim que a frequência com que, nos textos pálhavis, Ohrmazd iniciando Zaratustra, seu profeta, se expressa dizendo: “Nós, os Arcanjos” — corresponde ao uso, no próprio Avesta, da palavra Mazda no plural, “os Senhores Sabedorias”, para designar o conjunto dos Amahraspands. Pode-se evocar comparativamente como em Filon o Logos — senão o próprio Deus — é nomeado como arcanjo, porque é archon angelon.
Tradicionalmente, na iconografia mental como também, sem dúvida, na iconografia real, a Heptade divina figura como dividida em dois grupos: três Arcanjos representados como masculinos à direita de Ohrmazd, três Arcanjos femininos à sua esquerda. Ohrmazd mesmo reúne sua dupla natureza, pois dele se diz que foi ao mesmo tempo o pai e a mãe da Criação. Todos os Sete juntos produziram as criaturas por um ato litúrgico, ou seja, celebrando a Liturgia celeste, cada um dos Sete Poderes de Luz produzindo, em virtude da Energia que emana de seu ser, a fração dos seres que, no conjunto da Criação, representa sua hierurgia pessoal, e que por essa razão pode ser designada por seu próprio nome.
Ohrmazd tomou como sua hierurgia própria, objeto de sua atividade criadora e providente, o ser humano ou mais exatamente essa porção da humanidade que escolheu responder na Terra pelos seres de Luz. Dos três Arcanjos masculinos: Vohu Manah (Pensamento Excelente, pálhavi Vohuman, persa Bahman) reservou para si a proteção de toda a criação animal; Arta Vahishta (Existência Perfeita, Artvahisht, Ordîbehesht), o Fogo em suas diferentes manifestações; Xshathra Vairya (Reino Desejável, Shathrîvar, Shahrîvar), os metais. Dos três Arcanjos femininos: Spenta Armaiti (Spandarmat, Esfandarmoz) tem como hierurgia própria a Terra como forma de existência cuja Imagem é a Sabedoria e a mulher sob seu aspecto de ser de luz. A Haurvatât (Integridade, Khordâd) pertencem as Águas, o mundo aquático em geral; a Amertât (Imortalidade, Amordâd), as plantas, todo o universo vegetal. São essas relações hierúrgicas que indicam precisamente ao ser humano onde e como encontrar os Poderes de Luz invisíveis, ou seja, cooperando com eles para a salvação da região criatural que depende de sua providência própria.
Nessa obra, os Arcanjos supremos são auxiliados em primeiro lugar pela multidão dos Yazatas (persa Izad, literalmente os “Adoráveis”, aqueles que são objetos de uma liturgia, de um Yasna); são propriamente os Anjos do mazdeísmo, e a ideia de sua cooperação com os Amahraspands apresenta uma convergência impressionante com a angelologia neoplatônica. Entre eles está Zamyât, o Anjo feminino da Terra como Dea terrestris e Glória telúrica, cooperadora do Arcanjo Amertât. Alguns quiseram ver nela um simples duplo de Spenta Armaiti; sua função e sua pessoa nos aparecerão finalmente como distintas. Aliás, todos os Celestes são Yazatas, inclusive Ohrmazd e os Amahraspands, sem que todos os Yazatas sejam Amahraspands, em relação aos quais formam antes uma hierarquia subordinada. Há, enfim, a inumerável multidão das entidades celestes femininas chamadas Fravartis (literalmente “as que escolheram”, ou seja, escolheram combater para vir em auxílio de Ohrmazd), e que são ao mesmo tempo os arquétipos celestes dos seres e seu anjo tutelar respectivo; elas são metafisicamente tão necessárias quanto os Yazatas, pois sem sua ajuda Ohrmazd não teria podido defender sua criação contra a invasão destruidora dos Poderes demoníacos. Elas anunciam uma estrutura universal do ser e dos seres, segundo a ontologia mazdeísta. Cada entidade física ou moral, cada ser completo ou cada grupo de seres pertencentes ao mundo de Luz, tem sua Fravarti, inclusive Ohrmazd, os Amahraspands e os Izads.
O que elas anunciam aos seres terrestres é, portanto, uma estrutura essencialmente dual que dá a cada um seu arquétipo celeste ou Anjo, do qual ele é a contraparte terrestre. Nesse sentido, há uma dualitude ainda mais essencial na cosmologia mazdeísta do que o dualismo Luz-Trevas, que é seu aspecto mais comumente destacado; esse dualismo apenas expressa a fase dramática atravessada pela Criação de Luz, invadida e ferida pelos Poderes demoníacos, e é um dualismo que interpreta essa negatividade sem compromisso, sem reduzir o mal a uma privatio boni. Quanto à dualidade essencial, ela conjuga um ser de luz com outro ser de luz; mas nunca um ser de luz pode ter seu complemento em um ser de trevas, mesmo que seja sua própria sombra: o próprio dos corpos de luz na Terra transfigurada é precisamente não “fazer sombra”, e no pleroma é sempre “meio-dia”.
Essa estrutura dual instaura uma relação pessoal que duplica essa outra relação fundamental que a cosmologia mazdeísta expressa ao distinguir o estado mênok e o estado gêtik dos seres. Essa distinção não é exatamente a do inteligível e do sensível, nem simplesmente a do incorpóreo e do corpóreo (pois as Potências celestes têm corpos muito sutis de luz); é antes a relação entre o invisível e o visível, o sutil e o denso, o celeste e o terrestre, ficando bem entendido que o estado gêtik, material terrestre, não implica em si mesmo nenhuma degradação do ser, mas era ele mesmo antes — como será depois — da invasão ahrimânica, um estado glorioso de luz, de paz e de incorruptibilidade. Cada ser pode ser pensado em seu estado mênok assim como em seu estado gêtik (a Terra, por exemplo, em seu estado celeste é designada como zâm; em seu estado empírico, material, ponderável, como zamîk, persa zamîn).
