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Cada cultura acredita que todo outro espaço e tempo é uma aproximação ou perversão do espaço e tempo reais em que vive. Lewis Mumford O “tempo do sonho” australiano nos parece estranho porque distinguimos estórias de lugares. Para os aborígenes, lugares são estórias: linhas de canção.

“Assentar” um lugar selvagem significa criar não apenas casas e fazendas, mas também as estórias que as tornam um lar. Para os nativos australianos, seus desertos são lar porque são verdejantes de estórias. Para os irlandeses nativos, a representação literal do país era menos importante que sua dimensão poética. Na cultura bardica tradicional, o terreno era estudado, discutido e referenciado: cada lugar tinha sua lenda e identidade… O que perdurou foi a paisagem mítica, fornecendo escape e inspiração. R. F. Foster Estórias de lugar são essenciais para culturas não-modernas. As estórias mais desenraizadas da modernidade enfraqueceram tais relatos com a ficção da propriedade—hoje nossa estória mais básica sobre lugar.

A paisagem é um palimpsesto: um manuscrito no qual mais de um texto foi escrito, com a escrita anterior incompletamente apagada.

Nova Amsterdã, Nova York, Nova Jersey, Nova Orleans… Colonos europeus povoaram o “Novo Mundo” não apenas expulsando os “índios”, mas recontando a terra com nostalgia e ambições do Velho Mundo. Enquanto as armas e doenças dos brancos dizimavam os nativos, as florestas e solos do Novo Mundo ficavam indefesos contra estórias importadas sobre os lucros a serem feitos com peles, madeira e colheitas—parte da estória mais inquieta e desenraizada de todas, o poder liquefeito do dinheiro que pode se transformar em qualquer coisa que você quiser. Uma vez que o poder do lugar se perde na memória, o mito fica sem raízes; o conhecimento dos processos da terra se torna um tipo diferente de conhecimento, manipulado e aplicado pelo homem. Sean Kane As estórias nos alienam da natureza ou nos inserem nela? Ser natural é um papel em uma estória. Nenhum retorno a uma natureza sem estórias é possível, pois tais estórias dependem da insatisfação com a alternativa não-natural (civilização, tecnologia, etc.). Se existem pessoas naturais em algum lugar, seja lá o que isso signifique, elas não sabem que são naturais.

Paraíso vem de um termo persa para jardim cercado: pairi “ao redor” + diz “fazer ”. Tornar-se consciente de que o paraíso é cercado é encontrar-se fora dele.