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Romances do Graal (Sansonetti)

Sansonetti, 1982

Perceval ou o Conto do Graal, de Chrétien de Troyes, permaneceu inacabado. Inacabado? Aqui intervém a feliz intuição de Jacques Ribard: “Como não se impressionar com o fato de que três das obras-primas de nossa literatura medieval—três evidentes buscas espirituais—La Charrette, O Conto do Graal e O Romance da Rosa, de Guillaume de Lorris, são todas três inacabadas, ou ao menos assim consideradas?” (]).

Esses romances seriam, na verdade, voluntariamente inacabados porque um silêncio se impõe sobre o final da obra e, então, como diz J. Ribard, “talvez os autores tenham se resignado a calar-se diante do inexprimível” (]). Mas: “Não seria antes porque a busca não tem, não pode ter fim? (…) Que esses romances estão de fato concluídos, na medida em que não possuem um final?” (]). O fim da obra permaneceria, assim, “suspenso” no invisível!

Em outras palavras, esses romances seriam analogamente semelhantes à famosa espada quebrada—tão hierática, tão fascinante—quanto o próprio Graal, a ponto de, já na Primeira Continuação, ela passar a fazer parte do cortejo do vaso de luz. Mas não há dúvida de que essa lâmina truncada reflete como um espelho simbólico o Rei Pescador, um homem partido ao meio, pois está paralisado das pernas. Assim, tanto quanto formular as questões fatais—por que a lança sangra? Qual é o serviço do Graal?—reconstituir a espada significa fazer com que o rei ferido se levante e caminhe.

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