ibn_arabi:morris-rh-saha-siyaha

Morris (RH) – Saha/siyaha

MorrisRH

Essa raiz ocorre apenas três vezes no Alcorão, mas sempre em contextos proeminentes—e, de certo modo, misteriosos—que podem ajudar a explicar sua centralidade nas reflexões de Ibn Arabi sobre a jornada espiritual. No versículo 9:112, a prática ativa dessa virtude espiritual, seja qual for sua interpretação, aparece em uma lista célebre de epítetos descrevendo a rara elite espiritual que alcançou “a Suprema Realização” (al-fawz al-‘azim). No versículo 66:5, na forma feminina, o particípio ativo é novamente usado para caracterizar a mulher espiritualmente ideal. Juntos, esses dois contextos já sugerem uma qualidade e atividade espiritual excepcionalmente raras e profundas—bem mais exigentes do que o simples sentido de “jejum” proposto por muitos comentaristas clássicos do Alcorão.

Por fim, há a forma imperativa ativa desse verbo utilizada em 9:2: “Então, vagueai pela terra durante quatro meses e sabei que não podeis escapar de Deus…!” Se esse versículo for entendido—como Ibn Arabi frequentemente o faz—não apenas como referência a um grupo histórico específico de transgressores, mas a todos os seres humanos, ele sugere fortemente alguns dos temas essenciais em sua extensa abordagem desse conceito. Em particular, pode-se notar a implicação de que essa jornada solitária inicial é apenas a primeira etapa (talvez o primeiro terço?) de um processo muito mais longo; e o destaque dado pelo Shaykh ao fato de que a descoberta concreta da Presença divina, em toda sua universalidade, depende dessa fase inicial inescapável—e apenas aparentemente solitária—de “vagueação pela terra.”

Como frequentemente ocorre, aqui um único versículo corânico, inicialmente pouco promissor, acaba por resumir e conter implicitamente todas as inúmeras lições práticas e metafísicas que Ibn Arabi desenvolve ao longo dos capítulos iniciais das Futuhat.

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