A história de Ḥayy Ibn Yaqẓān de Ibn Tufayl
BashierSIP Ao introduzir a narrativa naturalista do nascimento de Ḥayy, Ibn Ṭufayl apresenta uma classificação tripartite dos corpos: corpos transparentes que não refletem luz nenhuma, como o ar; corpos densos que refletem luz parcialmente; e corpos que refletem luz perfeitamente, como espelhos polidos. Em correspondência a essa classificação, ele divide os existentes em objetos inanimados, em cuja forma o Espírito, que se assemelha à luz do sol, não deixa vestígios; plantas, em cuja forma o Espírito deixa alguns traços; e animais, em cuja forma — e especialmente na forma do ser humano — o Espírito deixa uma impressão completa. À medida que a presença da forma do Espírito se fortalece na forma do ser humano, sua realidade eclipsa todas as outras formas e tudo o que se interpõe em seu caminho. Então, ela se assemelha a um espelho que reflete sobre si mesmo e queima tudo mais com os esplendores de sua luz. Assim, a forma do Espírito e a forma humana se unem em um vínculo que é “indissolúvel não apenas para os sentidos, mas também para a razão”. A história de Ḥayy Ibn Yaqẓān é a história do restabelecimento desse vínculo, removendo os véus físicos e racionais que se interpõem entre o homem e sua verdadeira natureza. A narrativa pode ser dividida em três estágios. No estágio prático, Ḥayy aprende a remover os véus naturais ou físicos. No estágio teórico, ele aprende a remover os véus racionais. No estágio místico, ele aprende a transformar o véu supremo — seu próprio eu — em uma entidade essencial ou liminar, que se volta sobre si mesma e queima tudo o mais. Então, Ḥayy encontra pessoas religiosas comuns e busca “conceder sabedoria a outros que não os seus”. Antes de descrever esse encontro, Ibn Ṭufayl registra sua severa crítica aos racionalistas, que estão confinados dentro dos limites formais de sua razão, assim como os religiosos estão confinados dentro dos limites formais de suas crenças. Ele também aprende a lição de Ḥayy, ao explicar que, mesmo ao decidir escrever seu livro, o cobriu com “um véu fino e uma cobertura leve, facilmente perfurada por aqueles que são dignos e demasiado espessa para que os indignos a penetrem”. Ḥayy pode ser visto como a história do desenvolvimento do conhecimento humano. No entanto, isso difere da narrativa apresentada no Livro das Letras de Fārābī no sentido principal de que seu autor se recusa a parar nos limites formais da lógica (aristotélica). Ḥayy também pode ser considerado a história da relação entre religião e filosofia. O problema dessa relação, porém, não deve ser retratado como externo à filosofia, como algo que diz respeito apenas à relação entre filósofos e religiosos, mas sim como algo que está dentro dos limites da própria filosofia e que constitui um grande incentivo para refinar ou redefinir esses limites. É por isso que esse problema não encontra sua solução fārābiana, relativamente simples, que consistiria em investir esforço filosófico para convencer os religiosos de que suas crenças são imitações imperfeitas das verdades filosóficas. Tal solução apenas traria um fechamento, enquanto a história da filosofia é uma história sobre abertura
