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O "é" da relação de pertencimento conjunto (Stambaugh)

StambaughIB

Schelling escreveu um tratado inteiro sobre a essência da liberdade humana lidando precisamente com essas questões de como preservar a liberdade tanto de Deus quanto da criatura, como não eliminar metade da afirmação “todas as coisas são Deus”. Em seu estudo sobre o tratado de Schelling, Heidegger resume as possíveis formulações do panteísmo em uma passagem da seguinte forma: “As afirmações do panteísmo dizem: 1) tudo é Deus, 2) coisas individuais são Deus, 3) Deus é tudo. As duas primeiras afirmações e interpretações do panteísmo revelaram-se 'insípidas' porque a natureza de Deus é aniquilada nelas e justamente aquilo se perde em relação ao qual tudo e coisas individuais deveriam estar em Deus. Apenas a terceira afirmação é permissível, mas inicialmente como uma questão. E a questão deve ser direcionada ao significado do 'é'. Encontramos a identidade de S e P afirmada em uma proposição em geral e, nesta proposição em particular, a identidade de Deus e tudo não pode ser entendida como mera igualdade, mas como o pertencer junto do que é diferente com base em uma unidade mais primordial.” Esta análise leva Heidegger na direção de seu próprio interesse — compreender o “é” da identidade como pertencimento conjunto. Para os propósitos desta investigação, chegamos à afirmação “Deus é tudo” como a formulação mais adequada do panteísmo. Fazer de Deus um mero predicado é perder qualquer significado independente possível do termo “Deus”. Gramaticalmente falando, Deus deve ser o sujeito da frase. (Esta afirmação bastante abstrata fará mais sentido no decorrer das páginas seguintes.)

Basta dizer que Heidegger compreende a identidade do Ser (o “Deus” de Schelling) e do homem (as “todas as coisas” de Schelling) como apropriação (Ereignis), como pertencimento conjunto. Voltando à afirmação de Parmênides de que pensar e Ser são o mesmo, Heidegger interpreta a afirmação como significando que pensar e Ser pertencem juntos; um não é encontrado sem o outro. Se houvesse apenas Ser, não poderia haver conhecimento dele. Sem o homem, que é o acesso ao Ser, o Ser permaneceria desconhecido e irrevelado. E se houvesse apenas pensar, não haveria nada a ser pensado, além do pensamento sobre o pensamento de Aristóteles, que não interessa a Heidegger. O pensar não está encapsulado em si mesmo; está aberto ao Ser. Assim, Ser e pensar não constituem uma identidade numérica, mas pertencem juntos em uma relação que é mais fundamental do que os constituintes dessa relação. Somente a partir do “é”, da relação de pertencimento conjunto, tanto o pensar quanto o Ser podem ser adequadamente compreendidos.

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