Aham (Le Saux)
Saux1991
a grande sentença upanishádica — Aham brahma asmi: Eu sou Brahman; não há, em verdade, humildade mais profunda nem aniquilamento mais total de si, de seu “eu”, do que a humildade e a renúncia a si mesmo que supõe a recitação fervorosa e sincera deste mantra, desta fórmula sagrada. Pois é somente depois de ter retornado — ou mergulhado — ao meu verdadeiro Si, meu Si divino, que tenho o direito de “repetir”: aham brahma asmi. (Interioridade e Revelação, p. 45.)
Quem pronuncia em fé e verdade o aham brahma asmi, significa com isso que já não “reconhece” esse eu superficial ao qual antes dedicava tanto interesse, que passou inteiramente para o eu único e divino; e da mesma forma o Vidente, o brahmavid, o âtmavid, que respeitosamente e inefavelmente repete no silêncio do coração este “aham” misterioso, mergulhando nas profundezas do ser e de Deus, que a partir de então mal ousa pronunciar com seus lábios. (Interioridade e Revelação, p. 85.)
Este Aham, este Eu, este Purusha, este âtman , este Brahman é, poder-se-ia dizer, de todos os arquétipos, o mais fundamental. Ele é vivido, ele se manifesta através de símbolos, mitos e conceitos. E são os diversos “Caminhos” (marga) espirituais, seguidos com fé, que, nos planos afetivo, intelectual e da ação, purificam e decantam essa expressão que busca a si mesma e cujo progresso é a própria medida da realização do homem em si. (Interioridade e Revelação, p. 170.)
Para passar do ego superficial até o aham fundamental e definitivamente único real, apresenta-se um certo número de estágios ou degraus, todos simbólicos, naturalmente, todos buscando explicar de forma mais ou menos aproximada o mistério do retorno de cada um à sua fonte. (28.7.55; A Subida ao Fundo do Coração, p. 141.)
Há o aham que é puro impulso, e o aham que é posse. Ora, quem possui é possuído. A realização é a libertação, mukti, de toda posse do outro e pelo outro.
O Si, aham, não possui nenhum pensamento e não é possuído, encerrado por nenhum pensamento. (22.5.68; A Subida ao Fundo do Coração, p. 364.)
Assim como a Fonte não se identifica com o filete de água que dela flui. Não posso ouvir a Palavra do Deus que me dissesse que Ele é, que me dissesse dele “Eu sou” (como no Horeb) sem ter antes ouvido do fundo deste “arché” a palavra que me revela a mim mesmo. Se o Eu sou que ouço como dito por esse Deus vem depois, esse Eu sou não pode ser o de Deus. Se Deus é esse Ser a quem nada é anterior nem superior — diz a Bíblia — (nem mesmo posterior nem inferior, diz a Upanishad), Ele está nesse mesmo Eu sou no qual me desperto para mim. (2.7.71; A Subida ao Fundo do Coração, p. 404.)
