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Além (Le Saux)

Saux1991

Que prova tem de fato o místico cristão de que sua experiência trinitária do Saccidananda é verdadeiramente um além e uma superação da experiência do jnani hindu? Uma vez que se penetra no mistério do ser, as categorias em que a inteligência até então se movia parecem para sempre revolucionadas: as de antes e depois, de aquém e além, de dentro e fora, como todas as outras, tudo o que cabe na noção de dvandva, de alternativa ou oposição. Não há mais senão o ser por toda parte, em toda parte o brahman indiviso e inqualificável. (SHMC, p. 258-259.)

Apenas o tempo de pisar. Sempre partir novamente. Além.

O homem só vive em seu transcendimento.

Ele só se alcança perdendo-se. (Iniciação à Espiritualidade dos Upanishads, p. 31.)

Mesmo considerando os fracassos, ilusões e orgulhos, resta que muitos espiritualistas da Índia penetraram no fundo de si mesmos, no meio desse mistério, atingiram o lugar do ser, além do conhecimento como da não-conhecimento, na-prajna, na-aprajna, do pensamento e do não-pensamento. (Iniciação à Espiritualidade dos Upanishads, p. 62.)

Mas se a experiência de não-dualidade e do Ser já é tão inefável, quem poderia qualificar e sobretudo repetir essa experiência do além do além. Onde todo número é transcendido, onde o não-dois e o não-um, advaita e aneka não são mais contraditórios entre si… (Iniciação à Espiritualidade dos Upanishads, p. 64.)

O sannyasa está além de todo dharma, seja essa palavra entendida no sentido de regra ética ou de regra religiosa. (Iniciação à Espiritualidade dos Upanishads, p. 186.)

Além de todas as manifestações do Espírito que definem um dharma em sua individualidade, além do nível dos nomes e formas, há o Espírito em si que não pode ser definido nem encerrado em qualquer quadro. Nenhuma dedução a priori nem especulação pode levar a essa descoberta do Espírito em si além do nível das “religiões”. Essa superação só pode se dar existencialmente, isto é, numa penetração vertiginosa até o próprio coração da experiência religiosa, e enquanto ainda se é capaz de nomear esse “coração”, esse “fundo”, a prova está feita de que se permanece sempre no nível dos dvandvas e namarupas que cada um traz em si, no próprio surgir de seu pensamento refletido. Mas em cada religião e cada experiência religiosa há um “além”, e é exatamente esse “além” inefável que é nosso objetivo. (Iniciação à Espiritualidade dos Upanishads, p. 194-195.)

Todos os grandes dharmas viram, sob uma forma ou outra, o sannyasa surgir em seu seio. Na ordem histórica, foi no seio do Sanatana-dharma da Índia que primeiro brotou a chama, e quaisquer que sejam as transformações e mesmo as degenerescências trazidas pelos séculos, o sannyasa, tal como ainda hoje é vivido na Índia, permanece a testemunha mais radical desse chamado ao além, que — com maior ou menor intensidade — ressoa no coração de todo homem. (Iniciação à Espiritualidade dos Upanishads, p. 195.)

um sentido de “além”, e não apenas num céu concebido como projeção mítica de minha vida atual, mas bem de um sentido de além que subjaz a todo pensamento, todo silêncio, toda austeridade, todo prazer, toda oração, todo rito, a recusa de encontrar satisfação, plenitude em qualquer estado que seja. (Interioridade e Revelação, p. 173.)

O interesse supremo da Índia está centrado no além da apreensão intelectual (embora seja esse Último mesmo que, de dentro, mova a inteligência humana, como diz a Brihad Ar. Upanishad: “aquilo pelo qual todas as coisas são conhecidas”). Esse “Além” está além de todas as possibilidades de expressão; nem o mito nem as especulações abstratas podem significá-lo. Os signos (mitos e ideias) podem sugeri-lo, mas o coração do mistério os transcende irremediavelmente. (Interioridade e Revelação, p. 236-237.)

É o Além em si e não as noções provisórias que dele podemos ter (isto é, todos os nomes e formas do mundo fenomênico, todas as categorias mentais: os nama-rupa), que é o fundamento de todo pensamento indiano. Esse Além não pode ser objeto de conhecimento, pois não é um objeto. Se fosse um objeto, dependeria daquele que o projeta e seria nele que se deveria buscar o Absoluto. (Interioridade e Revelação, p. 237.)

O além é quando o tempo dos signos passou, então como o homem tal como se conhece só fala a linguagem dos signos, o que poderia ele dizer da Realidade? (23.1.64; A Subida ao Fundo do Coração, p. 324.)

Mas é preciso, para o avanço de outros homens — de um psiquismo por vezes no limite extremo do normal, com todos os perigos que isso comporta — um Kierkegaard, um Dostoiévski, um Rimbaud, na ordem humana, aqueles incapazes de se estabelecer. São os portadores do Espírito, e tanto pior se são por ele corroídos! Aqueles que fazem eclodir o signo em seu grito para além do signo ou melhor, esse signo eclode por si mesmo na centelha que passa — raio essencial entre eles e o mistério. Todo o mistério passou por eles quando o relâmpago os tocou. E quem pode resistir ao raio?

Frustração essencial do solitário que nada satisfaz. Frustração em tudo que é o signo sob o qual ele vive o Real.

É preciso viver na montanha o parto da Igreja, a passagem do seio materno tão confortável para a grande luz do Real, onde será preciso respirar por si mesmo — e não mais pelo intermédio da mãe — fora do intermediário, fora do signo; só consigo, a Solidão do Único! (16.4.64; A Subida ao Fundo do Coração, p. 330.)

O homem morre da experiência de ananta (infinito) além do além: Brahman. Morte, morte, ao tornar-se Brahman, o TODO Brahman sarvam. Sim isso é verdade, o engolfamento nessa Fonte! O Senhor me disse: hoje te gero. Ó esse tejomayah Purusha antes da criação dos mundos em sua criação o embrião de ouro tudo! Esse Purusha no embrião de ouro que nasce a-ja , que vem em todo nascimento. Oh! mas sou eu! Hiranmaya para garbha Oh! quando ele se descobre, quando o sol explode, o fim do mundo então Eu sou. (11.5.72; A Subida ao Fundo do Coração, p. 426.)

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