Guido Cavalcanti: Fresca rosa em botão...
Excertos de seleção de Pierre Riffard, em seu livro “O Esoterismo”, traduzido por Yara Azeredo Marino e Elisabete Abreu Fresca rosa em botão… Fresca rosa em botão, jocunda Primavera por prados e rios cantando alegremente, meus versos preciosos em louvor à volta do verdor.
Que vossos dons preciosos sejam nova fonte de gozos para os homens e para os jovens que se vão pelos caminhos. Que cantem os passarinhos cada um em seu latim no fim da tarde e pela aurora sob o verde do jardim. Que todo mundo cante já que a estação é chegada, cante como convém vossa nobreza pura, pois sois angelical criatura.
Angelical aparência reside em vós, Senhora: Deus, que felicidade a minha ter-vos desejado? Vosso rosto bondoso, ao longe, elevado, mais que a natureza, diz respeito ao milagre. Se entre as mulheres deusa sois chamada.
Vós existis, verdadeiramente. Tendes tal beleza que não sei descrever. Pode-se imaginar além da Natureza?
Além da Natureza humana Deus vos concedeu fino prazer para que sejais soberana na vossa própria essência, para que vosso aspecto não se revele distante para comigo, e que a doce Providência não seja para mim tão má!
Se me julgais atrevido por vos ter ousado amar, não queirais me ver punido, pois o Amor é minha vida. Contra ele força não há e nem medida.
Guido Cavalcanti (c. 1259-1300), Canzoniere, trad. parcial: A. Manjo, Lapoésie lienne (A poesia italiana), bilíngue, Seghers, 1964, p. 74-76.
