As quatro alternativas de Lin-tsi
Hermes-Tchan
eis primeiro um exemplo da maneira enigmática de Lin-tsi, que escolho por oferecer certo prazer literário e porque creio compreendê-lo aproximadamente. Tenho, porém, algumas dúvidas sobre sua autenticidade, ou pelo menos sobre a das definições imagéticas que ali se encontram, pois estas me lembram demasiado o Ch'an da época Song, posterior em dois ou três séculos ao de Lin-tsi, e no qual os valores estéticos ganham muito mais importância do que sob os Tang. É preciso reconhecer, contudo, que não faltam textos similares entre os atribuídos a outros mestres do Ch'an contemporâneos de Lin-tsi.
1) Pode-se suprimir o homem sem suprimir o objeto. O calor do sol faz nascer no solo um tapete de cetim; os cabelos soltos da criança são brancos como fios de seda.
2) Pode-se suprimir o objeto sem suprimir o homem. As ordens do rei são executadas em todo o país; para o general das fronteiras, nem fumaça nem poeira.
3) Pode-se suprimir simultaneamente o homem e o objeto. As prefeituras de Ping e Fen ficam sem notícias; permanecem sozinhas em seu canto.
4) Pode-se não suprimir nem o homem nem o objeto. O rei sobe ao seu palácio adornado de materiais preciosos; os anciãos no campo se entregam aos cantos.
Isso é o que se chama “as quatro alternativas de Lin-tsi” (A. 32; Y. 34-35). Trata-se de uma fórmula de quatro termos, um tetralema cuja forma é emprestada da lógica indiana; mas o conteúdo é bem chinês. Relaciona-se, se não me engano, às preocupações didáticas que reaparecem constantemente em Lin-tsi. Qual era a melhor maneira de ensinar seus discípulos a reconhecer a verdade em si mesmos, a melhor maiêutica?
1) O homem é o sujeito; o objeto é o mundo exterior, o universo cognoscível. Suprimir o homem mas não o objeto é perder-se na natureza, é reencontrar-se no universo, evocado aqui pela imagem do tapete de flores múltiplas e variadas que o sol faz nascer no solo na primavera; o sujeito com suas contradições, paixões e egoísmo perde então a consciência de sua identidade, o eu se torna irreal como uma criança de cabelos brancos, contradição nos termos. É, em suma, a posição realista, se tomarmos esse termo no sentido da existência do mundo objetivo excluindo o sujeito.
2) Suprimir o objeto mas não o homem é a posição idealista, a de uma das grandes escolas do budismo indiano, a escola do Vijnapti-mātra ou “apenas consciência”. Só o sujeito existe, tudo é apenas pensamento; a supressão do mundo exterior nos estados de recolhimento, onde só subsiste o pensamento, proporciona uma paz semelhante à de um reino onde as ordens do rei são tão perfeitamente seguidas que o general que vigia as fronteiras não vê mais aparecer nem a fumaça dos sinais de transmissão militar por meio de tochas noturnas, nem a poeira diurna que anunciaria exércitos em marcha. É a quietude pela supressão do mundo exterior.
3) A supressão simultânea do sujeito e do objeto é o aniquilamento de todo pensamento, percepção e consciência nos estados de recolhimento profundo onde são abolidas tanto a percepção externa do mundo quanto a consciência interna da pessoa; encontra-se então isolado como as prefeituras distantes de Ping e Fen, cuja situação geográfica as corta de todas as comunicações com o centro do império.
4) Não suprimir nem o sujeito nem o objeto é o retorno à realidade, sua reinstauração após a crítica do sujeito e do objeto, é um realismo não mais ingênuo, mas sublimado pela crítica idealista: processo bem conhecido em todas as religiões e que Toynbee define pela expressão “retirada e retorno”. O rei sobe à torre de seu palácio, como o místico no ápice do ser (bhāvāgra em sânscrito); mas é para contemplar de lá seu reino transfigurado, para ouvir os cantos de alegria do povo subindo até ele. Esta quarta alternativa resolve a oposição entre sujeito e objeto; é nela que Lin-tsi se detém e que resume sua filosofia.
