O mundo somos nós mesmos (Lin-tsi)
Hermes-Tchan
Não existe um outro mundo, e o mundo somos nós mesmos; é esse ser absoluto, ao mesmo tempo indefinível e o mais cotidiano, que Lin-tsi chama de “homem verdadeiro”. É a ele que Lin-tsi apela em toda sua heurística e que designa como “o religioso sem apoio”, ou seja, que depende apenas de si mesmo, ou ainda como “o brilho solitário”, ou simplesmente como “o homem”. E esse “homem” é a pessoa mais concreta, mais atual, mais existencial: “São vocês, vocês que estão aqui agora me ouvindo diante dos meus olhos, bem claros e distintos, vocês a quem nada falta…” Mas quanta dificuldade para desenganar os cegos! Vocês se apegam às palavras de certos velhos mestres: “Aqueles ensinam o verdadeiro Caminho”, dizem; “são pessoas admiráveis, e não cabe a vocês, vulgares profanos, ousar sondar ou medir esses anciãos veneráveis”. Gnomos cegos! São essas as visões que vocês cultivam por toda a vida, indo contra o testemunho de seus próprios olhos. E ficam aí, com os dentes cerrados, como burrinhos no gelo: “Não sou eu quem ousaria criticar mestres tão bons; teria medo demais de cometer um pecado de linguagem”. — Adeptos, é preciso ser de fato um grande mestre para ousar renegar o Buda e os patriarcas, criticar o mundo, incriminar o ensino das Escrituras e insultar as crianças que vêm até vocês; para ir buscar o homem onde quer que esteja, tanto entre os rebeldes quanto entre os dóceis… Parece que hoje só se encontram mestres de Ch'an parecidos com recém-casadas que só temem uma coisa: serem expulsas da família do marido (entenda-se: de seu mosteiro) e ficarem privadas do arroz que lhes dão para comer, de sua segurança, de seus confortos. Nunca, desde a antiguidade, se acreditou nos pioneiros de vanguarda, e foi preciso que fossem substituídos por outros para que seu valor fosse reconhecido. Aquele que é aprovado por todos, para que serve? O rugido do leão faz explodir o cérebro do chacal (A. 56; Y. 88-89).
