Hermes-Tchan

Esses apelos ao assassinato espiritual, esses blasfêmios contra a piedade filial, horrorizavam os confucionistas e os faziam dizer que “se Lin-tsi não fosse um monge budista, certamente teria sido um grande líder de bandidos”. No entanto, Lin-tsi não era por isso um revolucionário defensor da violência na prática. Seu pensamento permanece religioso, soteriológico; visa a salvação do homem, sua “libertação” como dizem os budistas. Mas ele também não é um místico; o irracional não é sua praia. O que ele recomenda incessantemente aos discípulos é ter “a visão correta”, é enxergar com clareza: O que é necessário atualmente para aqueles que aprendem a Lei do Buda é ter a visão correta. Tendo a visão correta, os nascimentos e mortes não os afetam; serão livres em seus movimentos; as virtudes transcendentes atribuídas aos santos virão a eles naturalmente sem que precisem buscá-las. Eu poderia citar a vocês, adeptos, todas as portas de saída que nossos antigos desde a antiguidade mostraram aos homens. Quanto a mim, o que lhes mostro é como não se deixar enganar por ninguém. Se quiserem seguir este conselho, usem-no; mas sem demora, sem dúvida! Se hoje os aprendizes não têm sucesso, onde está sua falha? Sua falha é não ter confiança em si mesmos. É porque vocês não têm confiança suficiente em si mesmos que se agitam tanto na busca de objetos externos, deixando-se desviar por esses dez mil objetos, e não encontram a liberdade. Saibam acalmar essa mente de busca que os faz correr tanto, e não serão diferentes dos patriarcas e do Buda. Sabem o que são os patriarcas e o Buda? Simplesmente esses homens que estão aqui, diante de mim, me ouvindo… (A. 32; Y. 37-40). Essa fé do homem em si mesmo não tem nada de irracional; é a própria razão. Ela deve repousar sobre uma certeza inabalável: Livre, só, independente, o verdadeiro adepto do Caminho não é obstruído pelas coisas. Ainda que céu e terra se invertam, não duvidarei! Ainda que todos os Budas das dez direções cardeais me aparecessem, não teria um pensamento de alegria; ainda que o Inferno se abrisse diante de mim, nenhum pensamento de medo (A. 82; Y. 100)…