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Anirvan (LRVV) – Purusha e Prakriti

LRVV

Um grande mestre da escola sâmkhya do século XV, Vijnâna Bhikshu, ofereceu a seguinte metáfora sobre Purusha e prakriti: “Prakriti é a esposa do Purusha: perspicaz, mas rabugenta. Não dá trégua ao Purusha, a ponto de ele, exausto, finalmente dizer: 'Vou embora, faz o que quiseres!' Então, Prakriti, em lágrimas, corre atrás do marido, suplica e agarra-se a ele…” Essas são as duas maneiras de lidar com prakriti, antes e depois de compreender sua verdadeira natureza. A lei cósmica mais próxima de nós afirma: “No momento em que te desligas de prakriti, as coisas passam a te seguir.” Swâmi Rama Tirtha ], no início do século, ofereceu outra imagem: “Se dás as costas ao sol, tens tua sombra à frente. Podes tentar agarrá-la, mas nunca a alcançarás. Porém, quando enfrentas o sol, a sombra fica atrás de ti. Se te moves, ela te segue. Podes levá-la para onde quiseres. O sol é a verdade, a sombra é prakriti.” Podemos falar facilmente sobre as mudanças em nossa consciência, sobre nossa compreensão que se amplia, mas com muito mais dificuldade sobre os reajustes em nossas relações com o mundo, pois a matéria do corpo é pesada. E as múltiplas camadas do corpo (koshas) não são ilusórias como costumam ser as camadas da mente. O Purusha nada pode fazer por nós, pois estamos escravizados por prakritiPurusha está além do tempo e além de nossa compreensão, enquanto prakriti existe no tempo: é ao mesmo tempo o conjunto de qualidades (gunas) que podemos avaliar, e o conjunto de movimentos e impressões (samskâras) de todas essas qualidades que compõem nossa vida. Um, o Purusha, é um lampejo de percepção; o outro, prakriti, opera num mecanismo integral. Entre os dois, há o sacrifício do Purusha que assume uma forma no tempo. Os esforços do Buda, por exemplo, são perceptíveis para nós. Em nossa escala, quando falamos disso, temos certa percepção de algo. Mas de quê? Existe uma relação precisa entre prakriti, que se move espontaneamente, sempre em círculos, de maneira mecânica, e Purusha, além do tempo, que apenas observa o que ocorre. Na vida espiritual, essa relação aparece no ponto exato onde o desapego voluntário rompe os laços estabelecidos por prakriti. Na vida do Buda, esse período de desapego é representado pela primeira metade de sua ascese. Posteriormente, enquanto observa de longe o que ocorre, ele se interessa cada vez mais pelo jogo do qual não participa mais, e percebe as menores faltas de cada jogador. Então, sem interromper seu modo de jogar, apenas por sua força espiritual, ele os leva a se afastarem, como ele, para que possam observar o jogo. É dar-lhes a oportunidade, quando chegar o momento, de ver prakriti da qual se afastam, como ele mesmo a vê. A energia sutil aqui descrita tornou-se a aura do Buda; é simplesmente a prakriti inferior transformada, iluminada.

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