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Ibn Arabi (1240) – Ele É

MSRMI

Ele É, e com Ele não há antes nem depois, nem acima nem abaixo, nem longe nem perto, nem união nem divisão, nem como nem onde nem lugar. Ele é agora como era; Ele é o Único sem unicidade e o Singular sem singularidade. Ele é a própria existência do Primeiro e a própria existência do Último, e a própria existência do Exterior e a própria existência do Interior. De modo que não há primeiro nem último, nem exterior nem interior, exceto Ele, sem que esses se tornem Ele ou Ele se torne eles. Ele não está em uma coisa nem uma coisa Nele, seja entrando ou saindo. É necessário que O conheça dessa maneira, não por aprendizado ('Um) nem por intelecto, nem por compreensão, nem por imaginação, nem por sentido, nem pelo olho externo nem pelo olho interno, nem por percepção. Por Si mesmo Ele Se vê e por Si mesmo Ele Se conhece. Seu véu, ou seja, a existência fenomênica, é apenas o ocultamento de Sua existência em Sua unicidade, sem qualquer atributo. Não há outro e não há existência para nenhum outro, senão Ele. Aquele que se pensa ser outro que Deus, não é outro que Deus, mas não O conhece e não entende que O está vendo. Ele ainda é Governante e governado, e Criador e criado. Ele é agora como era, quanto ao Seu poder criativo e quanto à Sua soberania, não necessitando de uma criatura nem de um súdito. Quando Ele chamou à existência as coisas que existem, já estava dotado de todos os Seus atributos e é como era então. Em Sua unicidade não há diferença entre o que é recente e o que é original: o recente é o resultado de Sua manifestação Dele mesmo e o original é o resultado de Sua permanência dentro Dele mesmo. Não há existência senão a Sua existência. A isso o Profeta apontou quando disse: “Não injurieis o mundo, pois Deus é o mundo”, apontando para o fato de que a existência do mundo é a existência de Deus sem parceiro ou semelhante ou igual. Relata-se que o Profeta declarou que Deus disse a Moisés: “Ó Meu servo, Eu estava doente e não Me visitaste: Pedi-te ajuda e não Ma deste”, e outras expressões semelhantes. Isso significa que a existência do mendigo é a Sua existência e a existência do doente é a Sua existência. Ora, quando isso é admitido, reconhece-se que essa existência é a Sua existência e que a existência de todas as coisas criadas, tanto acidentes quanto substâncias, é a Sua existência, e quando o segredo de um átomo dos átomos é claro, o segredo de todas as coisas criadas, tanto externas quanto internas, é claro, e não se vê neste mundo ou no próximo, nada exceto Deus, pois a existência dessas duas moradas e seus nomes, e o que nomeiam, todos eles são, sem dúvida, Ele. Quando o mistério — de perceber que o místico é um com o Divino — for revelado, compreenderá que não é outro senão Deus e que tem continuado e continuará… sem quando e sem tempos. Então verás todas tuas ações serem as ações Dele e todos teus atributos serem atributos Dele e tua essência ser a essência Dele, embora não se torne, por isso, Ele ou Ele tu, nem no maior nem no menor grau. “Tudo perece, exceto Sua Face”, isto é, não há nada exceto Sua Face, “então, para onde quer que se volte, lá está a Face de Deus.” Assim como aquele que morre a morte do corpo perde todos os seus atributos, tanto os dignos de louvor quanto os dignos de condenação, da mesma forma na morte espiritual todos os atributos, tanto os dignos de louvor quanto os a serem condenados, chegam ao fim, e em todos os estados do homem o que é Divino vem tomar o lugar do que era mortal. Assim, em vez de sua própria essência, há a essência de Deus e no lugar de suas próprias qualidades, há os atributos de Deus. Aquele que conhece a si vê toda a sua existência como a existência Divina, mas não percebe que qualquer mudança tenha ocorrido em sua própria natureza ou qualidades. Pois quando conheces a ti mesmo, tua “eu-dade” desaparece e sabes que tu e Deus são um e o mesmo.

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