Hulin (PEPIC:286-287) – atividade de pensamento
Tr. Antonio Carneiro
Para que se tenha atividade de pensamento — e não simples aparência de uma tal atividade — a primeira condição a preencher é a presença de um sujeito pensante, testemunho fixo das múltiplas ideações. O Trika parece assim de início a concordar com o Advaita na sua crítica da teoria budista do conhecimento (aqui do Vijnānavāda): “Afirma-se que os objetos devem residir na consciência pura para poder se distinguir (uns dos outros). Mas isso não é possível se repousam sobre uma consciência pura constituída por atos de conhecimento distintos. Mas se os objetos, azul, prazer, etc., são conduzidos no Eu, o grande oceano da consciência que tem forma de sujeito conhecedor, por meio de atos de consciência distintos, de conhecimentos determinados atuando no papel de riachos e de rios, e aí repousam face à face, então (somente) dão lugar à um conhecimento” 1). Na realidade, (287) o que é buscado aqui, é menos a unidade de um suporte permanente dos vividos (como nas epistemologias bramânicas) do que aquela de uma atividade de pôr em relacção. É próprio do Trika, com efeito, de sublinhar esta propriedade que tem a consciência de conferir a unidade ao diverso que nela vem se refletir. “Os próprios animais — destaca Abhinavagupta — sabem todos, por suas experiências pessoais, que a água e o fogo, quando acedem à unidade vindo repousar na consciência pura, não são mais coisas opostas”. É verdade que não importa qual Advaitin poderia retomar esse julgamento por sua conta, à condição de o interpretar no sentido de uma redução do diverso heterogêneo à essência única da consciência, redução comparável àquela sofrida por combustíveis de origem diversa que vêm à ser consumidos em um fogo único. No Advaita, com efeito, como também no Sāmkhya, é a causa material (o upādāna) que prevalece: os objetos sensíveis particulares não são nada mais que a matéria do qual são feitos. Do ponto de vista do Advaita, eles são feitos de consciência e sua forma individual é irreal, pura construção imaginária. Assim que a consciência os “pensa”, eles logo se dissolvem nela, como as famosas bonecas de sal mergulhadas no mar. A consciência pura não tem necessidade deles e fica como indiferente à sua estrutura particular. Ela não funciona senão como seu substrato comum e permanente. No Trika, ao contrário, a consciência pura suporta o diverso enquanto tal; melhor, ela tem necessidade de parecer se negar e se dispersar nele para existir como consciência.
