Nasafi – Do Homem Perfeito Livre
GastinesLHP
Foi dito que o Homem Perfeito é aquele que possui com perfeição quatro coisas: boas palavras, boas ações, boas disposições naturais e conhecimento. O Homem Perfeito livre é aquele que possui com perfeição oito coisas: as quatro anteriores e, além disso, a renúncia, a vida oculta, a frugalidade e a humildade.
Ó dervixe! Saiba agora que os Homens Perfeitos são de dois tipos. Uns escolhem a solidão, a frugalidade e a obscuridade. Outros, a satisfação, a submissão e a contemplação. Esses dois grupos existem no mundo; cada um é dedicado à sua vocação. Os adeptos do primeiro sabem que, assim como o calor acompanha o mel e o frio acompanha o cânfora, a desunião e a separação acompanham o mundo e o comércio daqueles que se dedicam a este mundo. É por isso que renunciam e arrancam de seus corações o amor pelo mundo. Se por acaso alguma tentação se lhes apresenta — gozo ou prazer mundano — ou se lhes é oferecida a companhia de pessoas que buscam o mundo, eles recusam e fogem. Temem e fogem do mundo como outros temem e fogem do leão, da pantera, da cobra ou do escorpião. Os adeptos do segundo grupo sabem que o homem ignora onde está o seu bem. Às vezes, o homem se alegra com uma coisa e ela lhe causa mal; outras vezes, ele se aflige com ela e ela lhe causa bem. Cientes desse segredo, eles rejeitam a deliberação, a iniciativa, a decisão e a escolha: eles consentem e se submetem. Se a fortuna e a posição lhes caem nas mãos, eles não se alegram; se elas os abandonam, eles não se afligem.
Se lhes são oferecidas roupas novas, eles as vestem; se as roupas estão gastas, eles as vestem da mesma forma. Se lhes é proporcionada a companhia de pessoas dedicadas a este mundo, eles se alegram e querem que estas, com o seu convívio, tirem proveito. Se lhes é proporcionada a companhia de pessoas em busca do outro mundo, também se alegram e querem tirar proveito dessa convivência para si próprios. Quanto a mim, direi humildemente que, depois de ter renunciado, vivi muito tempo na solidão, na frugalidade e na obscuridade; e ainda mais tempo na satisfação, na submissão e na contemplação. Agora, estou aqui. Não sei com certeza qual é a melhor opção; não consegui dar preferência a uma em detrimento da outra. Hoje mesmo, enquanto escrevo estas linhas, ainda não me decidi. Vejo muitos benefícios e muitos perigos em cada lado.
