Fascismo, soma de todas as reações caracterológicas irracionais (Reich)
ReichPMF
Há certa anuência em ver no fascismo a ditadura de um pequeno grupo de reacionários – opinião que prejudica todos os movimentos autênticos de libertação. A persistência desse erro se explica pelo medo que a visão clara e nítida da verdade inspira nos homens: na realidade, o fascismo é um fenômeno internacional que atinge todos os organismos da sociedade humana em todas as nações do mundo. Essa conclusão está em perfeito acordo com os acontecimentos internacionais dos últimos quinze anos.
Minhas experiências em análise do caráter me convenceram de que não existe um único ser humano vivo que não carregue, em sua estrutura caracterológica, os elementos da sensibilidade e do pensamento fascistas. O fascismo, enquanto movimento político, se distingue de todos os outros partidos reacionários pelo fato de ser aceito e defendido pelas massas.
Estou plenamente ciente de que tais afirmações acarretam imensas responsabilidades. E desejo, no interesse deste mundo doente, que as massas trabalhadoras possam reconhecer com a mesma lucidez sua responsabilidade quando se trata do fascismo.
É preciso distinguir claramente entre militarismo comum e fascismo: a Alemanha de Guilherme II era militarista, mas não fascista.
Como o fascismo sempre se apresenta como um movimento sustentado pelas massas humanas, ele carrega todos os traços e contradições da estrutura caracterológica do homem nivelado pela multidão. O fascismo não é, como se tende a crer, um movimento puramente reacionário, mas se apresenta como uma mistura de emoções revolucionárias e conceitos sociais reacionários.
Se entendermos por “espírito revolucionário” uma revolta racional contra os abusos insuportáveis da sociedade humana, a vontade racional de “ir até a raiz das coisas” (“radical” = “radix” = “raiz”) para melhorá-las, então o fascismo nunca é revolucionário. É verdade que ele pode se apresentar disfarçado de emoções revolucionárias. Mas não se qualificará de “revolucionário” um médico que desfere uma enxurrada de insultos contra uma doença, em vez de investigar e combater com coragem e convicção suas causas. Sempre assistimos a revoltas fascistas quando uma emoção revolucionária se transforma em ilusão porque tem medo de encarar a verdade.
Em sua forma pura, o fascismo é a soma de todas as reações caracterológicas irracionais do homem médio. Aos olhos do sociólogo limitado, que não tem coragem de reconhecer o papel primordial do irracional na história da humanidade, a teoria racista fascista não passa da expressão de interesses imperialistas ou, numa fórmula ainda mais moderada, de um “preconceito”. Essa também é a opinião dos políticos irresponsáveis e demagogos. O impacto e a vasta difusão dos “preconceitos raciais” atestam sua origem: a parte irracional do caráter humano. A teoria das raças não é uma invenção do fascismo; muito pelo contrário: foi o ódio racial que deu origem ao fascismo, do qual ele é a expressão política. Existe, portanto, um fascismo alemão, italiano, espanhol, anglo-saxão, judeu, árabe. A ideologia racista é a expressão caracterológica biopática do homem atingido pela impotência orgástica.
